Na
bizarra Naniquez apareceu uma fera, ainda não vista, a atacar as pessoas,
provocando apreensão a todos. Como a
fera era desconhecida e não se sabia bem como capturá-las, os caçadores
testavam às cegas armadilhas e recomendaram prudência, orientavam os naniquenses
evitarem saírem, e, precisando, andarem protegidos. Não havia certezas, mas
pedras e paus impediam o avanço da fera. JB, desdenhava do perigo, era capitão
formado, não seria uma “ferazinha” que o impediria de seguir seus afazeres.
“Paus e pedras, bobagem”, dizia, e emendava: “coisa de gente trocha, de
idiotas”. Começou a circular que água benta matava a fera, que ela era coisa de
um grande demônio vermelho. A princípio, anunciou-se que se devia usar água
benta quando a fera atacasse. Os resultados, no entanto, não foram promissores.
A fera era impiedosa. Depois, passou-se a dizer que se devia, preventivamente, banhar
duas vezes por dia em água de cheiro. Entre padres e pastores houve
controvérsias. Uns achavam que era charlatanismo, outros, um tanto quanto
estultos, defendiam cegamente o uso e aconselhavam um combo: água benta, água
de cheiro e óleo ungido. JB era
entusiasta da ideia, e não perdia oportunidade em recomendar: “Deixem de ser
frouxos e ficarem trancados dentro de casa, procurem um padre, um pastor, um
benzedor, é vida que segue. A fera vai comer alguns? Vai! Acontece!” Os
caçadores insistiam: era preciso evitar sair sem motivo, e precisando, manter
pedras e paus a disposição. Não impedia a fera de atacar, mas a atrasavam. Os
caçadores anunciavam já ter uma armadilha eficaz, não mataria a fera, mas a
colocaria sobre controle. JB mostrava-se reticente, para ele a solução já
estava dada: “água benta, três banhos ao dia! Era só consultar o Malafalsa.”
Quanto mais os caçadores recomendavam acolhimento e padres e pastores bem
formados combatiam as teses da água benta, já provado que não passava de
crendice, mais JB os atacava. Dizia que os caçadores queriam apenas vender
jaulas e os padres e pastores que negavam as propriedades protetivas da água
benta estavam mancomunados com os interesses do grande demônio vermelho. E para
provar sua tese promovia marchas pelos povoados de Naniquez e tripudiava dos
que seguiam as orientações de caçadores, padres e pastores lúcidos. Ademais, de
toda parte chegavam noticias de que as armadilhas, de fato, continham a fera,
mas era preciso, mesmo assim, por algum tempo, não baixar guarda e continuar
armando-se de pedras e paus e evitar aglomerações sem motivo. A fera, se sabia,
desde seu surgimento, atacava em multidões. Mas à frente de Naniquez estava JB.
E a fera, em Naniquez, se fartava e
reproduzia feras mais agressivas...
sexta-feira, maio 21, 2021
JB
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