É
atribuído a Sócrates o seguinte dito: “a origem do mal é a ignorância”. E
segundo dizem, Platão concluiu: “logo, sabendo onde o mal está, o mal não nos
atinge!” A ignorância tem duas acepções: 1) não saber algo. E não saber não é
um problema, é uma condição. Sabemos não saber muitas coisas. E sabendo não
saber, procuramos saber. Disto conclui Aristóteles que é próprio do humano
querer saber. 2) não fazer caso, desdenhar do que sabe. O desdém com o
conhecimento, com o saber produzido sob algo é pernicioso. É neste sentido que
a ignorância é um mal. Um exemplo disto é sabermos que a realidade presente
exige cuidados específicos: manter distanciamento social, higienizar as mãos
com frequência, usar mascaras, evitar aglomerações, etc. Quando ignoramos, por
não querer fazer caso, destas prescrições estamos colocando em risco a nós
mesmos e aos que nos rodeiam. Na acepção do não saber algo, ao mal que desta
ignorância resulta chamamos erro, acidente. Eu não sabia que não se joga água
no óleo quente, me queimei: foi um acidente. Na acepção do desdenhar o que se
sabe, elegemos Jair Bolsonaro. Nós não ignorávamos o que ele era, só não fizemos
caso. Elegemos um ignorante, num sentido abjeto: um tipo bruto, inconsequente,
maléfico. Bolsonaro ignora, desdenha, não faz caso, que não deve aglomerar, que
deve usar máscara, que deve manter o distanciamento social, que deve incentivar
e promover, o quanto antes, a vacinação da população. Este desdém não produz
erro, ou acidente, produz centenas de infecções e mortes que poderiam ser
evitadas. De maneira sistemática, Jair Bolsonaro não exprime desejo de saber e
sua ignorância é abjeta e criminosa. No domingo sua ignorância desfilou de moto
pelas ruas do Rio e promete repetir-se em São Paulo, quando especialistas
indicam uma terceira onda de Covid-19 entre nós. Até quando permitiremos que
tal ignorância estenda seus malefícios entre nós? Até quando veremos pessoas
bem formadas, mas ignorantes, aplaudindo e dando corpo a tamanha monstruosidade?
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