domingo, maio 16, 2021

DE ONDE SE FALA?

Já há algum tempo, eu não leio jornal impresso. Quando lia, sabia diferenciar uma crônica, de um editorial, um editorial de um artigo econômico, um artigo econômico de uma posição política, uma posição política de uma reportagem, uma reportagem de uma análise. O jornal ajudava nesta distinção com seus cadernos específicos.  Outro gosto que eu tinha era a do boteco. Meu pai manteve por longos anos um bar mercearia, e ali o comercio de meu pai era um lugar de acalorados debates políticos e esportivos. Nunca gostei de vender cachaça, mas das conversas de boteco tomei gosto. Por fim, agrada-me conversas familiares e de encontros de amigos, geralmente são voltas ao passado, releituras bem humoradas de conflitos, desentendimentos, incompreensões, coisas que no passado causaram constrangimentos e rusgas, retornam cheias de riso. Nem sempre é assim, eu sei. Há magoas que remoemos uma eternidade. Mas é bom, muito bom, reencontrar irmãos, irmãs, amigos, amigas e rir de situações que nos constrangeram no passado. O motivo deste texto é outro no entanto. Quando muito se fala do lugar de fala, eu acho importante dar sentido ao local em que se fala, e diferenciá-los: a fala num púlpito não é a mesma que no parlamento. Uma coisa é uma conversa no boteco, outra numa cátedra. Num mesmo jornal, um peso tem um editorial, outro uma crônica. Um artigo de opinião e uma análise de um fato não tem o mesmo peso. Recentemente conversando com uma amiga, defendi que damos muita atenção a quem fala, sem considerar o local: uma cátedra, uma coluna de jornal (de qual jornal?), uma mesa de bar, de onde se fala. Nós podemos falar de tudo a todo momento, mas é preciso estar cientes de onde falamos. Conversas atravessadas num boteco, entre familiares e amigos, se não se encerra em crime, é pode acontecer, pode tornar-se combustível festivo num encontro futuro. No púlpito, na cátedra, no parlamento, numa pagina de jornal, revista, livro, não podemos ser levianos ou grosseiros [também entre familiares e amigos deveríamos nos dar respeito e ser respeitosos com o que dizemos], requer compromisso, coerência, algum conhecimento. Uma opinião não é conversa fiada, uma opinião é uma posição diante da realidade, uma posição que diz de mim, de meu caráter. Uma opinião infundada, não apenas distorce a realidade, ela depõe contra o opinante. Então, é preciso ter claro, quando se toma a palavra se se está num stand up, numa conferencia, numa mesa de bar ou numa coletiva de imprensa. O ouvinte e ou leitor também precisa ter claro se está diante de um comediante, um poeta, um professor, um político, um sacerdote... e do lugar: uma coisa é o sermão dominical, na mesa da palavra, outra é a conversa camarada com o padre ou pastor, encontrados no mercado. Isto serve para quem lê jornal, uma coisa é uma crônica, outra um editorial, outra um artigo, outra ainda uma analise com dados e estatísticas. Deve dar conta também em que jornal está lendo tais coisas. Tudo isto serve para o mundo digital...


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