Já
há algum tempo, eu não leio jornal impresso. Quando lia, sabia diferenciar uma
crônica, de um editorial, um editorial de um artigo econômico, um artigo
econômico de uma posição política, uma posição política de uma reportagem, uma
reportagem de uma análise. O jornal ajudava nesta distinção com seus cadernos
específicos. Outro gosto que eu tinha
era a do boteco. Meu pai manteve por longos anos um bar mercearia, e ali o
comercio de meu pai era um lugar de acalorados debates políticos e esportivos.
Nunca gostei de vender cachaça, mas das conversas de boteco tomei gosto. Por
fim, agrada-me conversas familiares e de encontros de amigos, geralmente são
voltas ao passado, releituras bem humoradas de conflitos, desentendimentos,
incompreensões, coisas que no passado causaram constrangimentos e rusgas, retornam
cheias de riso. Nem sempre é assim, eu sei. Há magoas que remoemos uma
eternidade. Mas é bom, muito bom, reencontrar irmãos, irmãs, amigos, amigas e
rir de situações que nos constrangeram no passado. O motivo deste texto é outro
no entanto. Quando muito se fala do lugar de fala, eu acho importante dar
sentido ao local em que se fala, e diferenciá-los: a fala num púlpito não é a
mesma que no parlamento. Uma coisa é uma conversa no boteco, outra numa cátedra.
Num mesmo jornal, um peso tem um editorial, outro uma crônica. Um artigo de
opinião e uma análise de um fato não tem o mesmo peso. Recentemente conversando
com uma amiga, defendi que damos muita atenção a quem fala, sem considerar o local:
uma cátedra, uma coluna de jornal (de qual jornal?), uma mesa de bar, de onde
se fala. Nós podemos falar de tudo a todo momento, mas é preciso estar cientes
de onde falamos. Conversas atravessadas num boteco, entre familiares e amigos,
se não se encerra em crime, é pode acontecer, pode tornar-se combustível festivo
num encontro futuro. No púlpito, na cátedra, no parlamento, numa pagina de
jornal, revista, livro, não podemos ser levianos ou grosseiros [também entre
familiares e amigos deveríamos nos dar respeito e ser respeitosos com o que
dizemos], requer compromisso, coerência, algum conhecimento. Uma opinião não é
conversa fiada, uma opinião é uma posição diante da realidade, uma posição que
diz de mim, de meu caráter. Uma opinião infundada, não apenas distorce a
realidade, ela depõe contra o opinante. Então, é preciso ter claro, quando se
toma a palavra se se está num stand up, numa conferencia, numa mesa de bar ou
numa coletiva de imprensa. O ouvinte e ou leitor também precisa ter claro se
está diante de um comediante, um poeta, um professor, um político, um
sacerdote... e do lugar: uma coisa é o sermão dominical, na mesa da palavra,
outra é a conversa camarada com o padre ou pastor, encontrados no mercado. Isto
serve para quem lê jornal, uma coisa é uma crônica, outra um editorial, outra
um artigo, outra ainda uma analise com dados e estatísticas. Deve dar conta
também em que jornal está lendo tais coisas. Tudo isto serve para o mundo
digital...
domingo, maio 16, 2021
DE ONDE SE FALA?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário