Todos diziam que o Pégasus era na verdade um pangaré. Comprá-lo era mau negócio. “Gadin”, dizia a mulher de Desvaindo Delgado, “esse bicho num guenta puxar carroça não. O negócio dele é pastar à sombra, lá pelos laranjal.” Mas Desvaindo era encantado pelo bicho: “É nada, boba! É maledicência das pessoas. Pégasus tem histórico militar, tem um bom coice, relincha forte, com sinceridade ”. “E agora você entende de relincho de cavalo, homem?” “Pégasus é um mito, mulher, um mito!” A contra gosto da esposa, Delgado apostou tudo no pangaré e o atrelou à carroça. “Gadin”, desespera a mulher, “esse bicho nos leva à ruína, coiçando assim, ele destrói a carroça. “Ele tá pegando jeito, mulher, ele tá pegando jeito. Pensa firme mulher, pensa firme!” De quando em quando, para agradar o pangaré, Delgado lhe descascava umas laranjas. “Ce viu, mulher? Ce viu, como Pégasus gosta de laranjas?” “E de sombra Gadin, e de sombra!” No boteco, o negócio de Delgado é comentário. “Do jeito que as coisas vão, o “mito” do Delgado o leva ao precipício”, diz um. “E quem o convence do contrário?”, questiona outro. “Gadin, é turrão, não quebra orgulho fácil!”, diz um terceiro. A risada corre solta. “Nóis sofre, mais nóis ri!”, diz um escancarando a boca careca. Delgado já mandou informar lá no boteco: “Se falarem do meu Pégasus, eu meto processo, meto processo.”
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