segunda-feira, fevereiro 15, 2021

UM CONVITE À SABEDORIA

  

Viva com aqueles que possam te tornar melhor e que você possa torná-los melhor. É uma vantagem recíproca, porque os homens, enquanto ensinam, aprendem. (Sêneca)

A verdadeira sabedoria é estar certo de não saber e aberto a aprender. (Rodner Lúcio)

 

Anteriormente vimos que a Filosofia é uma palavra composta do termo amor e do termo sabedoria. Radicada no amor, a Filosofia convoca a pessoa humana a realizar-se conjugando o sair de si na coexistência com outros e outras e o recolher-se em si, numa perspectiva de transcender-se. Vimos que o amor, em sentido filosófico, exige determinadas atitudes: cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento. Cabe agora tratar então da sabedoria.

A esfera da sabedoria nos dirige à exploração dos valores que qualificam a existência humana. Inclinada à sabedoria, a pessoa visa a produzir conhecimentos, atitudes e ações que a aperfeiçoe e a vincule à comunidade humana numa coexistência pacifica e solidária.

No sair de si e perceber-se coexistindo, a pessoa toma consciência de suas limitações e imperfeições. Na covivência com outros, produzindo um mundo comum, manipulando a natureza e seus recursos, a pessoa desenvolve instrumentos e técnicas que potencializam suas capacidades e facilitam sua vida. Por meio desses instrumentos e técnicas a pessoa organiza a comunidade humana e produz conhecimentos que a aprimoram. No entanto, os instrumentos e técnicas que a pessoa e a comunidade humana criam para facilitar o co-viver e o auto-aperfeiçoar-se podem, também, segundo seu uso, voltarem-se contra ela e a comunidade humana, colocando-as em risco.

A sabedoria, sem impor-se à pessoa, procura ilumina-la, apontando tais riscos, questionando intenções e desejos que permeiam o fazer humano, reclamando uma prevalência a valores: respeito, responsabilidade, cuidado, voltados à plena humanização.

Se da plena Humanidade a pessoa se aproxima ou se afasta segundo os valores e meios de que faz uso, orienta-la, colocando questionamentos e convocando à reflexão, ao ponderar das ações é tarefa que a sabedoria se dá. Assim, sem ser impositiva, a sabedoria visa o mais alto fim da pessoa: o advento de sua humanidade plena.

Por isso, da sabedoria, faz-se companheira a esperança. Uma esperança que evoca uma pratica radicada em atitudes e compromissos que evoquem na pessoa a disposição para transformar a realidade exterior, aproximar as pessoas entre si, autodeterminar-se, em vista de sua realização mais plena e perfeita. O que a sabedoria espera não é louvação dos que dela se aproximam. Ela espera que o humano atinja sua plenitude de humanidade, sabendo fazer justo uso de meios e recursos à sua disposição. Então, é para o que é justo e digno de ser vivido que a sabedoria se acerca.

Enredada no binômio amor-sabedoria, a Filosofia assume um compromisso: manter vivo o convite às pessoas à convivência reflexiva e dialogada; à ação comprometida com o respeito, a responsabilidade e o cuidado com o mundo e as pessoas, comprometida com liberdade e a autonomia do pensar e a autodeterminação das pessoas.  

Nesta perspectiva, a Filosofia não impõem respostas, receitas ou vaticínios, cabe-lhe indagar as interpretações que se dão do mundo e do humano, e questionar os rumos que a humanidade se dá no afã de transcender-se...  

Se “sábio não é quem tem as respostas certas e sim quem tem as perguntas justas”, e se “a função do amor é levar o ser humano à perfeição”, a Filosofia, enquanto sede da sabedoria e morada do amor, colocando questionamentos ao ser humano, cuida para que a esperança da plena humanidade concretizando-se em cada ser humano não desfaleça...

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