Trato do que, talvez, não entendo para, quem sabe, ser esclarecido. Desde que ouvi a expressão “lugar de fala” a entendi, e talvez eu esteja errado, como uma expressão enviesada, caricatural. Nunca, porém, procurei me desfazer de minha primeira impressão. Eu sempre achei que não é o lugar de fala que tem relevância, e sim o que se fala do lugar em que se está. Ao lado, então, da conquista ao direito de falar, faz-se necessário que a fala não deturpe todo o movimento de luta que a permitiu. O “lugar de fala”, penso eu, é um lugar representativo, nele não falo de mim de minhas veleidades, falo dos meus e pelos meus. Falo para somar, mesmo que distinguindo características próprias, e não para ensimesmar e colocar-se a parte. Bom tudo isso pode ser um equivoco meu, de minha preguiça em dedicar-me mais apropriadamente do tema. Mas digo estas coisas porque mesmo não acompanhando o BBB, acompanho o debate em torno dos personagens da casa. Pelas reações e manifestações que percebo de comentários e memes que circulam por aqui, o que está ocorrendo na “casa” é um processo de desqualificação e deslegitimação de nossas lutas (Negros, mulheres, LGBTs, ritos afro-amerindios, etc), usando-se para isto supostos representantes das pautas de lutas identitárias. O mesmo processo obteve sucesso em programas que deslegitimavam e ou negavam a política, resultando no congresso (é minúsculo mesmo) que temos e em Bolsonaro. Não, Bolsonaro, e o congresso que temos, não é só fruto do fracasso das esquerdas. É resultado de uma engenharia de desmonte de nossas mínimas conquistas. Enquanto nos deleitamos ou nos desesperamos ante as sandices do mandatário em posto, conquistas alcançadas a duras batalhas vão sendo liquidadas e garantias da proteção social desmanteladas. Voltando aos personagens da casa, caricatos, eles não foram selecionados ao acaso. E digo isso sem os conhecer, e sem saber o que faziam fora da casa. Pelo que ouço e vejo aqui, parece-me, eles estão a desconstruir conquista basilares dos movimentos identitários. Como fazem hoje, tentando responsabilizar as esquerdas pela eleição de Bolsonaro, como se Bolsonaro não fosse fruto de um projeto político, ali na frente, e não muito distante assim, os organizadores do “entretenimento” e os grupos que sustentam tal “entretenimento”, irão nos responsabilizar por nosso genocídio. Na casa, nosso lugar de fala vai se caracterizando como lugar de murmurações e não de fala-AÇÃO. Logo será lugar de negacionismos e nossas mínimas conquistas parecerão usurpação... Mas, eu posso estar errado.
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