sexta-feira, fevereiro 12, 2021

UM CONVITE AO AMOR

 

O amor não é, principalmente, uma relação para com uma pessoa específica; é uma atitude, uma orientação de caráter, que determina a relação de alguém com o mundo como um todo, e não para com um “objeto” de amor. (Erich Fromm, A Arte de Amar, 1966, p 56)

 

Em sua origem, a palavra filosofia (Φιλοσοφία) é composta de dois termos: Φιλο (philo), que significa Amor (ou amizade) e σοφία (sophia) que significa Sabedoria. De tal modo, à raiz da palavra filosofia encontramos o termo amor, que, em filosofia, não é entendido como um sentimento afetivo-emocional da experiência com um outro ou outra. Em Filosofia, o amor é uma atitude e assume um lugar central. Desta perspectiva, para se compreender o papel ou dimensão da filosofia, cabe explicitar o termo amor.

É preciso dizer que sem esta dimensão, o amor, no plano da existência humana nenhuma ação seria possível. O amor é, na pessoa humana, a solicitação à exteriorização de si e, ao mesmo tempo, ao recolhimento na própria intimidade.

A pessoa, para que se desenvolva e atinja o máximo de sua plenitude, precisa sair de si mesma, comunicando-se com o mundo, afrontando e acolhendo a presença dos outros e outras que compõem o mundo com ela. É na relação com outros e outras que a pessoa vai tomando significado pleno de si. Sem a presença do outro, as pessoas não chegariam a ser elas mesmas, é só na interelação que a pessoa tende a se autodeterminar. É inserido no mundo e em relação com outros e outras que a pessoa se concretiza. É neste sentido que o amor é solicitação à exteriorização, a sair de si.

No sair de si, no entanto, a pessoa arrisca a se dispersar e alienar-se e tornar-se coisa entre coisas. Por isso, o amor é também um apelo ao recolhimento e a intimidade. Este convite a estar consigo mesmo não é um convite à solidão ou ao isolamento, mas um convite a conhecer a si mesmo, colocar-se questões e procurar-se respostas que clareiem o que se deseja, para onde se quer ir ou o que se quer fazer da própria existência. O recolhimento é um processo de autodeterminação, desenvolvido aos poucos, contradizendo-se e auto-afirmando-se no ensejo de ter uma vida que faça sentido.

Esta polaridade dinâmica e continua que caracteriza o amor é carregada de intencionalidade, de vontade, de decisões cruciais. Então, enquanto atitude que orienta o caráter, o amor, explica Erich Fromm, exige cuidado, responsabilidade, respeito, conhecimento.  Quem ama cuida do que ama, quem ama respeita o que ama, quem ama responde pelo o que ama, quem ama procura conhecer a quem ou ao o que ama. Então, a Filosofia, a princípio é esta atitude de amor: amor pelo mundo e no mundo pelo ser humano. Daí que a Filosofia faz do mundo e da pessoa humana seu objeto de conhecimento. A Filosofia busca saber, para melhor cuidar, para melhor responder, para melhor respeitar, o mundo humano e o humano em seu mundo. Então, quando dizemos, seguindo sua etimologia, que a Filosofia é um amor à sabedoria, é dizer que cuidar, respeitar, tornar-se responsável, requer saber, um saber que não nos é dado, mas conquistado. Conquistar conhecimento para melhor cuidar e respeitar e ser responsável por quem ou o que amamos, é em que consiste a Filosofia.

Assim, toda a finalidade da filosofia é chamar a pessoa  para esta experiência de amor, enquanto experiência vital para suas realizações em vista do máximo de plenitude.

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