O amor
não é, principalmente, uma relação para com uma pessoa específica; é uma
atitude, uma orientação de caráter, que determina a relação de alguém com o
mundo como um todo, e não para com um “objeto” de amor. (Erich Fromm, A Arte de
Amar, 1966, p 56)
Em
sua origem, a palavra filosofia (Φιλοσοφία) é composta de dois termos: Φιλο
(philo), que significa Amor (ou amizade) e σοφία (sophia) que significa Sabedoria.
De tal modo, à raiz da palavra filosofia encontramos o termo amor, que, em filosofia,
não é entendido como um sentimento afetivo-emocional da experiência com um outro
ou outra. Em Filosofia, o amor é uma atitude e assume um lugar central. Desta
perspectiva, para se compreender o papel ou dimensão da filosofia, cabe
explicitar o termo amor.
É
preciso dizer que sem esta dimensão, o amor, no plano da existência humana
nenhuma ação seria possível. O amor é, na pessoa humana, a solicitação à
exteriorização de si e, ao mesmo tempo, ao recolhimento na própria intimidade.
A
pessoa, para que se desenvolva e atinja o máximo de sua plenitude, precisa sair
de si mesma, comunicando-se com o mundo, afrontando e acolhendo a presença dos
outros e outras que compõem o mundo com ela. É na relação com outros e outras
que a pessoa vai tomando significado pleno de si. Sem a presença do outro, as
pessoas não chegariam a ser elas mesmas, é só na interelação que a pessoa tende
a se autodeterminar. É inserido no mundo e em relação com outros e outras que a
pessoa se concretiza. É neste sentido que o amor é solicitação à
exteriorização, a sair de si.
No
sair de si, no entanto, a pessoa arrisca a se dispersar e alienar-se e
tornar-se coisa entre coisas. Por isso, o amor é também um apelo ao
recolhimento e a intimidade. Este convite a estar consigo mesmo não é um
convite à solidão ou ao isolamento, mas um convite a conhecer a si mesmo, colocar-se
questões e procurar-se respostas que clareiem o que se deseja, para onde se quer
ir ou o que se quer fazer da própria existência. O recolhimento é um processo de
autodeterminação, desenvolvido aos poucos, contradizendo-se e auto-afirmando-se
no ensejo de ter uma vida que faça sentido.
Esta
polaridade dinâmica e continua que caracteriza o amor é carregada de
intencionalidade, de vontade, de decisões cruciais. Então, enquanto atitude que
orienta o caráter, o amor, explica Erich Fromm, exige cuidado,
responsabilidade, respeito, conhecimento.
Quem ama cuida do que ama, quem ama respeita o que ama, quem ama
responde pelo o que ama, quem ama procura conhecer a quem ou ao o que ama.
Então, a Filosofia, a princípio é esta atitude de amor: amor pelo mundo e no
mundo pelo ser humano. Daí que a Filosofia faz do mundo e da pessoa humana seu
objeto de conhecimento. A Filosofia busca saber, para melhor cuidar, para
melhor responder, para melhor respeitar, o mundo humano e o humano em seu
mundo. Então, quando dizemos, seguindo sua etimologia, que a Filosofia é um
amor à sabedoria, é dizer que cuidar, respeitar, tornar-se responsável, requer
saber, um saber que não nos é dado, mas conquistado. Conquistar conhecimento
para melhor cuidar e respeitar e ser responsável por quem ou o que amamos, é em
que consiste a Filosofia.
Assim,
toda a finalidade da filosofia é chamar a pessoa para esta experiência de amor, enquanto experiência
vital para suas realizações em vista do máximo de plenitude.
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