quinta-feira, abril 21, 2016

TIRÉSIAS


“Tirésias via em sua cegueira, eu vejo em minhas alucinações” (Euripedes dos Santos)

Tia, certa vez, contou-nos a história de Tirésias, um desafortunado que assistiu a cópula (não foi este termo) de duas cobras e depois disso passou a alternar-se ser homem por sete anos e ser mulher por outros setes. Depois disso entrou numa briga de casal, deu razão ao homem, viu se condenado pela esposa à cegueira (quanto a isto há uma outra versão: ele teria visado uma deusa em seu banho) e ganhou em contra partida a clarividência (termo que tia também não usou). Vó fez bolo, e enquanto o bolo assava e o café coava, ela explicou que há varias formas de cegueiras. A do não saber do erro e a do saber, mas insistir nele ou, por interesse, apoiá-lo são frutos de mesquinharia e ambição e são as que desumanizam o homem. Vó e tia não se diziam analfabetas, se diziam cegas para a letras uma atrás da outra (“eu as vejo meu fio, mas é como se não as visse”, dizia vó), no entanto eram como Tirésias, viam o que dissimulamos, viam o quanto obtusos podemos ser e o risco a que isto nos leva.


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