Claudio
Domingos Fernandes
Como
é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos
pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores... (Salmo 1)
No
show de horrores que foi a votação de encaminhamento de impeachment de Dilma
Rousseff, Deus foi chamado em causa inúmeras vezes, para sustentar o voto do
nobre deputado.
Ocorreu-me,
por mais de uma vez, o segundo mandamento: Não tomar seu santo nome em vão. Numa versão bíblica evangélica se lê “Não use
o meu nome sem o respeito que ele merece; pois eu sou o Senhor, o Deus de
vocês, e castigo aqueles que desrespeitam o meu nome” (Ex. 20,7). Mas Deus, no
conselho de ímpios (Alguém é capaz de encontrar honestidade e integridade em
pessoas como Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro, Paulo Maluf, Marcos Feliciano...?),
foi invocado e, como reza o Salmo 82,1-4 tomou o seu lugar na reunião dos
deuses (sim, eles se sentem deuses!) e no meio deles dá a sua sentença: “Vocês
precisam parar de julgar injustamente e de estar do lado dos maus. Defendam os
direitos dos pobres; sejam justos com os aflitos e os necessitados. Socorram os
humildes e os pobres e os salvem do poder dos maus”.
Alguém
sabe me apontar quando foi que Eduardo cunha e acompadrinhados apresentou algum
projeto de lei favorável ao pobre, ao humilde, ao injustiçado? Não, nunca se
preocuparam com os carentes, pelo contrario dos mais necessitados eles
escarnecem. Seus projetos beneficiam sempre as grandes empresas, os
oligopólios, os bancos. Chamar Deus em causa, em um processo viciado, é uma
injúria, um desrespeito com o nome do Senhor. Ontem, Eduardo Cunha e os que o seguiram zombaram não só de nossas caras:
Zombaram do que há de mais sagrado; escarneceram de Deus, tentando envolve-lo,
em seus interesses.
Para
os que além de invocar Deus, também invocou a família, fica, então, a
manifestação de Deus a esses homens-deuses: “Eu sou Senhor, o Deus Eterno! Eu
tenho compaixão e misericórdia, não fico irado facilmente (penso que é hora de
Deus se irar, um pouco que seja)... Porém não deixo de castigar os filhos (um
deputado desejou declinar ao filho o seu voto) e até os netos, os bisnetos e os
trinetos pelos pecados dos pais” (Ex. 34, 6-7). Tenho resistência a aceitar
este legado. Mas reforço, há certas coisas que me fazem invocar a ira de Deus.
Em
Jó, Deus aceita o jogo de Satanás. Mas ali se tratava de testar um homem justo.
Ontem não! E Deus saiu e, sacudindo contra a festiva assembleia o pó de seus
pés, exclamou: “Ai de vocês hipócritas, sois como sepulcro caiado. Neste antro,
todas as atitudes são corruptas e abomináveis: não há um que faça o bem” (Salmo
14,1). Não Me misturo a vossos interesses!”
Há
quem dirá que os injustos, os ímpios, os corruptos se uniram para combater a
corrupção, mesmo que a ré não tenha acusação formal de tal crime, que,
derrubando-a, em seguida se derrubará Cunha, Temer, Aécio. Para estes, por
ingenuidade ou má fé, o meios espúrios são justificados pelo desejo de fins
nobres. Lembro a história que tia nos contou nos idos anos 70, anos de chumbo.
“Coronel
Agripino Maia recebeu a noticia de que o filho precisaria transplantar o coração.
Em seu coração de pai, coronel Agripino Mai, para salvar o filho, chamou
capataz e ordenou-lhe tirar a vida do filho de Demétrio Silva, colono que lhe
devia na venda. Coronel Agripino Maia encontrara meios de receber o que lhe era
devido (que é justo) e salvar o filho (que é nobre)”.
Mais
tarde, contando essa história a Rodner Lucio ele a resumiu “O uso de meios
escusos a um fim justo, conspurca o resultado alcançado.” Ontem não demos um
passo no combate à corrupção, abrimos brechas para a arbitrariedade e a
ilegalidade.
Eu
não tenho a menor preocupação com o processo de impeachment de Dilma, faz parte
do jogo político. Ela é ciente disso. Preocupa-me ver pessoas instruídas,
capazes de entendimento, aplaudir e dar eco a estes homens-deuses, apoiando um
processo que sabemos viciado.
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