quarta-feira, dezembro 23, 2020

Relatinho de roça


Manhanzina de verão, as mulheres lavam o pano nas águas do ribeirão. Conversam das últimas do arraial. “Coroné, se viu menina?” “Coroné, mando capar padre Inácio”. “Coroné, tem coração não, muié”. “E padre Inácio?... É sacrilégio, muié! É sacrilégio” “E a madama que o senhor prefeito arredou asa? Se viu?” “Dispensou o prefeito! Preferiu a filha!” “O mundo é fora dos eixos, muié! É fora dos eixos!” “E num é que é: padre de bobiça com cabritas e as madama trocando nabo por mexerica” “É fim dos tempos muié, é fim dos tempos!” “E Rufino, comadre, aquele mão de vaca?” “Mofino como é, achou de se engraçar com Ritinha de Lourdes Maria”. “Logo com quem! Aquela só se oferece por vintém”. “Agora, anda lá todo emputado, falando de prejuízo, que empatou cobre em bolso furado”... O alarido de vozes se alterna a risarias e cantorias de benditos, enquanto as mulheres batem os panos no ribeirão... Antes de levantar trocha e dar destino ao dia, Jaciara se lança às águas e se refresca.  Desce as águas do ribeirão o caboclo Romildo. Jaciara suspira: “Ah, Romildo, Romildo, que piroga formosa a de Romildo... Ah, não fosse o almoço por preparar, eu montava sua piroga e, contigo, Romildo, perdia o dia em desatino.” 


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