quinta-feira, dezembro 31, 2020

DESLUMBRE

 

Eu não celebro o Natal, o Natal é uma invenção do comercio pra gente gastar dinheiro. Jesus nem nasceu no dia 25 de dezembro. Acho que ele nem existiu. É tudo invenção, só pra nos fazer gastar dinheiro...  A passagem de ano não, a passagem de ano eu celebro. Todo ano faço questão de comprar uma roupa nova, de preferência branca, de viajar pro litoral, estourar fogos. Em fogos não economizo. Quanto mais estouros e luzes no céu, mais me animo pro ano que começa. Depois é só bebemorar. Papai Noel podia vir trazer presentes na passagem de ano, não no Natal. O Natal não tem nada a ver... É mesmo, é? Eu não sabia!!! Então estamos indo para 2021, devido o nascimento de Jesus? Nosso calendário é cristão, é? Bobagem! Eu continuo achando que o Natal é só pra gente gastar dinheiro... Você não quer as pecinhas de roupa e o par de brincos que eu comprei pra passar o Réveillon? Menina, vou deslumbrar!!!

quarta-feira, dezembro 30, 2020

DA AMIZADE

Os que desejam bem aos seus amigos por eles mesmos são os mais verdadeiramente amigos, porque o fazem em razão da sua própria natureza e não acidentalmente.

Aristóteles

 

Aristóteles dispunha a amizade em três categorias: segundo a utilidade, segundo o prazer, segundo a virtude.

Segundo a utilidade e segundo o prazer, a amizade é acidental, se dissolve quando uma das partes deixa de ser útil ou agradável e a outra parte a deixa de amar. Sustentada no interesse ou no prazer, a amizade é efêmera, passageira.

A amizade perfeita para Aristóteles não abole a utilidade e o prazer, mas não se sustenta em uma ou outra. A rocha em que se funda a amizade verdadeira é a rocha da virtude. Ela se estabelece entre pessoas que “são boas e desejam o bem uns dos outros”.  Pessoas boas têm a justiça como cerne de suas experiências e procuram o bem, não por algum tipo de vantagem, mas pelo bem em si mesmo. Quando duas pessoas com tais características se unem, ensina Aristóteles, tem se a amizade perfeita. Este tipo de amizade é rara, porque pessoas que visam o bem em si mesmo e tem a justiça por critério de ação são raras. Ela requer tempo e convivência.  Se a amizade fundada na utilidade e ou no prazer é evanescente, a amizade fundada na virtude é duradoura, ela perdura às contrariedades e turbulências que a existência nos coloca dia-a-dia.

Deixando Aristóteles, encontramos Cícero que diz: “Prefiro a amizade a todos os bens desta terra; com efeito, nada se harmoniza melhor com a natureza, nada esposa melhor os momentos, positivos ou negativos, da existência.”

E como Aristóteles, insiste Cícero: a verdadeira amizade de dá entre pessoas éticas, justas, que buscam a retidão de conduta e sempre o bem estar do amigo.

De minha parte, não sei se sou bom amigo, desconfio que não. Mas se insisto em existir quando o que desejo é não ser, é devido ter amigos. Destes prezado por Aristóteles e Cícero.

quarta-feira, dezembro 23, 2020

Relatinho de roça


Manhanzina de verão, as mulheres lavam o pano nas águas do ribeirão. Conversam das últimas do arraial. “Coroné, se viu menina?” “Coroné, mando capar padre Inácio”. “Coroné, tem coração não, muié”. “E padre Inácio?... É sacrilégio, muié! É sacrilégio” “E a madama que o senhor prefeito arredou asa? Se viu?” “Dispensou o prefeito! Preferiu a filha!” “O mundo é fora dos eixos, muié! É fora dos eixos!” “E num é que é: padre de bobiça com cabritas e as madama trocando nabo por mexerica” “É fim dos tempos muié, é fim dos tempos!” “E Rufino, comadre, aquele mão de vaca?” “Mofino como é, achou de se engraçar com Ritinha de Lourdes Maria”. “Logo com quem! Aquela só se oferece por vintém”. “Agora, anda lá todo emputado, falando de prejuízo, que empatou cobre em bolso furado”... O alarido de vozes se alterna a risarias e cantorias de benditos, enquanto as mulheres batem os panos no ribeirão... Antes de levantar trocha e dar destino ao dia, Jaciara se lança às águas e se refresca.  Desce as águas do ribeirão o caboclo Romildo. Jaciara suspira: “Ah, Romildo, Romildo, que piroga formosa a de Romildo... Ah, não fosse o almoço por preparar, eu montava sua piroga e, contigo, Romildo, perdia o dia em desatino.” 


segunda-feira, dezembro 21, 2020

HOMENS QUE AMO

Desta mistura equilibrada

de seriedade e galhardia

de sonhar mundos outros,

não como utopias,

mundos possíveis

e desta mistura equilibrada

de não se perderem,

por seus sonhos,

nas tramas que tecem os dias

tecendo-se nelas,

histórias vivas

um é artista, o outro filósofo e o outro político.

Desta mistura equilibrada

De não abrirem mão da responsabilidade

E de seguirem o que é preciso

da burocracia,

sem deixarem de acreditar

na esperança que tornam ato

em suas mestrias:

Senna, Maida, Garippo

Destas grandezas não se encontra

Fácil na freguesia.

BOSSONALIDADES

Sempre foi assim,

Mas no meu tempo

Não tinha todo esse mimimi

Eu nunca sofri,

Mas sempre foi assim

Tudo agora é racismo,

Homofobia,

Assédio, em fim.

A gente chamava o crioulo

De macaco e ele sorria

Descia o cacete no viado

Ele agradecia

Bulinava uma mina aqui

Outra ali

E ela se sentia

Agora coisa boba

Uma expressão besta qualquer

Uma piada pra fazer rir

Passar a mão na bunda de uma guria

É muito mimimi

Para algo que sempre foi assim

Conjecturou um comentarista

Em rede de televisão

Do alto de sua bossonalidade.

 

segunda-feira, dezembro 14, 2020

BOBIÇA

[...]

Ana pé de cana

João pé de feijão

José pé de café

Joana pé de banana

Antonio pede matrimônio

Não! Não vale, não vale! Matrimônio não vale

Vale sim, claro que vale tá na música!

Que música?

Aquela assim oh:

“eu pedi numa oração

ao querido são João

que me desse um matrimônio

são João disse que não!

são João disse que não!

Pede lá pra santo Antônio!”

Mas nós não estamos brincando assim! Nós estamos brincando de rimar nome com pé de planta. Matrimônio não é planta.

É sim!

É não!

É sim!

Não é não!

Não é não? Não é não? Então porque quando Tio Tião e Maria Rita se casaram o padre disse: “que este matrimônio, abençoado por Deus, floresça e dê bons frutos para a glória do Senhor?”

É modo de falar seu bobo! É modo de falar! Vamos brincar de outra coisa...  De quem disse?!

Como?

De quem disse?

Quem disse o que?

A brincadeira Antônio, a brincadeira é “quem disse?” Por exemplo: Eureka!”

Eu, o que?

Eureka, Antônio. Eureka! Quem disse: “Eureka!”

Você disse uai, acabou de dizer!

Não, bobo! Que personagem histórico disse: “Eureka!”

Sei não, quem foi?

Foi Arquimedes de Siracusa, um matemático grego.

Conheço não! É da Grécia é?

Não Antônio, é um matemático Grego de Roma.

Então é romeiro?

Romeiro? Que romeiro, Antônio. É romano que diz!

Não sei também não!

Não sabe o que Antônio?

Quem disse isso ai: “romano”

Não, Antônio, ninguém disse “romano, não. Eu estou te explicando que quem mora em Roma não é romeiro não, é romano.

Sei, entendi: romeiro é que vai em Aparecida, não é?

É Antônio, é! Mas vamos brincar: “Independência ou morte!”

É melhor não!

É melhor não o que Antônio?

É melhor não brincar disso não, do jeito que sou azarado, vai que cai morte.

Que morte Antônio, não vai cair morte alguma!

Ninguém morre, não?

Não Antônio, ninguém morre!

E como é que brinca?

Como é que brinca? Brinca do que Antônio?

Disso ai: Convalencência ou morte!

É convalescença, Antônio

Então, como é que brinca?

Antônio, assim não dá! Desisto! Vou pra dentro, ajudar mãinha!

Vai não! Vamos brincar?

Vamos! De que?

De Tio Tião e Maria Rita. Eu Sou tio Tião, você Maria Rita.

Então tá, você começa.

Rita, minha cabocla, vem cá com seu nego, vem. Vem buliçar, vem. Vamo fazer bobiça, vamo!

Tião, meu, fii, tome tento homem. Inda é cedo, olha as crianças. Corre ali na venda de seu João, corre... Compra uns trem pra gente lanchar. Vamo deixar isso pra noitinha... 

Margarida!

Diz Antônio!

Que é fazer bobiça?

Sei não, Antônio. Sei não!

Eu quero fazer bobiça com você!

Mas, Antônio, o que você está dizendo? Você nem sabe o que é fazer bobiça?

Eu sei sim, já vi Tio Tião e Maria Rita fazendo!

Menino, olha o que você está dizendo, se vóinha te escuta, te pela.

É assim: a gente senta lá dibaixo da mangueira, fica olhando pras estrelas prozeando sobre nome de filhos e, então, eu seguro a sua mão e você segura a minha. Depois eu pego o violão e você me sorri e canta uma canção. Eu sorrio para você e canto também. Vamo brincar de fazer bobiça, vamo?

Mas você não sabe tocar violão, Antônio!

Não é hoje não, sua boba, é quando nós crescermos!

Mas e agora, Antônio, do que nós brincamos.

De pique esconde. Eu conto!

 

EU TE AMO

 

Para Ione Viana de Souza


“Muitos negam a existência do amor, mas todos desejam ser amados” (Christine Ramos)


Tudo o que pensamos, tudo o que realizamos tem um só propósito: o nosso bem. E este bem, Aristóteles definiu como Felicidade. E segundo ele, a felicidade é o mais importante, ou, até mesmo, o único fim das ações e desejos humanos. E para Aristóteles o amor (philia) está no centro da vida feliz. Philia descreve o sentimento recíproco de bem querer sincero e benéfico entre os amantes (amigos). Sem quem nos ame, e sem quem amar, a felicidade perde o sentido.

Em sua Retórica, diz Aristóteles: “amar é querer para alguém aquilo que pensamos ser uma coisa boa, por causa desse alguém e não por causa de nós.” (Aristóteles. Retórica. Tradução e notas Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena. Lisboa: Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa. 2005: p. 170)

Na Ética a Nicômaco, Aristóteles descreve três formas de Amizade: a) por prazer, em os amigos se buscam porque há um prazer recíproco no convívio entre eles; b) por necessidade, em que os amigos se associam um ao outro porque são úteis entre si e retiram da amizade algo de interesse próprio; c) pela amizade em si mesma, em os amigos se procuram porque querem bem uns aos outros. Aqui, busca-se o bem do amigo por amor ao amigo. 

Este tipo de amizade requer, na compreensão aristotélica, benevolência: o desejo do bem ao outro, desejo que se atualiza no fazer bem ao outro. Mesmo que este desejar e procurar o bem ao outro seja desinteressado, na concepção de Aristóteles, a amizade exige reciprocidade. Também o que recebe o bem o retribui. É esta relação de troca de bens pelo bem do outro, pelo outro, que caracteriza o amor. 

Subjetivamente nós procuramos para o nosso bem o que é melhor: o belo, o bom, o perfeito. No amor identificamos o bom com gentileza, educação, cordialidade, respeito, carinho... Assim, na expectativa de sermos amados, esperamos encontrar alguém gentil, carinhoso, compreensivo, sensível, cortez, inteligente, dedicado, acolhedor, educado... que nos ame como somos: com nossos erros, nossos vícios, nossas manias, nosso complexo de Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim. Eu sou mesmo assim. Vou ser sempre assim. Gabriela, sempre gabriela” (Dorival Caymmi: Modinha para Gabriela).

Nós, no entanto, não nascemos com nossa subjetividade. Ela se forma de nossas experiências e de nossas relações com as pessoas e a cultura que nos envolvem. Nossa subjetividade caracteriza ao mesmo tempo nossa singularidade, somos únicos, que não significar ser sempre o mesmo, e nossa sociabilidade: não sou sem o outro. Quando sei ser querido, amado, amo-me. Eu me quero bem se há quem me queira bem.

Neste sentido, dizer eu-te-amo desdobra-se em dizer eu- me- sinto-amado. E aqui eu discordo de Freud, para quem o amor a si mesmo excluiria o amor ao próximo. É preciso que saibamos nos amar, a querer-nos o melhor, como diria Sócrates, para podermos amar alguém. Só deveria dizer eu te amo, quem sabe se amar.  No entanto, só podemos saber o que é nos amar se nos soubermos amados, e sempre somos amados por um outro.  Nós nos amamos como somos amados por um outro. Numa perspectiva sartreana, se nós somos aquilo que nos fazemos daquilo que nos fazem: Eu me amo do amor que me amastes! Dizer eu te amo é dizer: Em ti me percebi amante por ser amado.


sábado, dezembro 12, 2020

MIX de RITS

Meu bem,

Na beleza desse teu olhar

Tu me dás água na boca

Abra os botões deste teu vestido

quero-te toda nua

E se ardendo só pra mim

Não me interesso por teorias

Dê-me em tuas fantasias

Adoro um amor inventado

Deixa eu te amar

Na relva, na rede, como me quiseres

Quero-te toda num beijo

No teu corpo, no teu colo

Lá onde te afloras

Deixa-me ser teu homem

Sejas minha mulher

No chão, no mar, na lua,

na melodia

 

 

 

quinta-feira, dezembro 10, 2020

Tarde de Verão

 

A vidraça embaçada

chuva veraneia

o quarto abafado, sem ventilação

a luz acesa

a radio ligada

mãe e tias

na sala.

Eu, à toa

espichava  olhares furtivos

às pernas da prima.

Foi sonho,

delírio,

desatino,

belisquei -lhe a bunda

“Madrinha, olha o primo!”

“Já pro quarto, menino”

Eu me emburrava

com a chuva açoitando a vidraça

A prima veio ao quarto,

a mãe a tias na sala,

Dedo nos lábios,

um sorriso cúmplice,

desabotoou a camisa

desfez-se da saia

me envolveu em seus braços.

desfiz-me em seu gozo

Acordei.

A chuva havia passado.

A prima, as tias

tinham se ido

Deixaram abraços

pedaço de bolo

“Da próxima vez

te passo a vara

na frente de todos”

disse-me mãe

naquela tarde de verão

quarta-feira, dezembro 09, 2020

QUEM PENSA GERALMENTE SE CALA

 Há falas que revelam o quanto somos indignos de ter direito de fala, mesmo numa posição privilegiada. (Rodner Lúcio)

 

Enquanto indivíduos nos vêm muitas coisas à mente. Sentimentos se misturam a sensações e emoções. É inevitável, portanto, aflorar-nos ideias grotescas, bárbaras, absurdas. Tenho pensamentos de fazer o tinhoso parecer um anjinho romântico. Mas é cá, comigo mesmo. Passando a ser social (cidadão para alguns), tenho responsabilidade por minha fala, não me permito falar tudo que me vem à mente, pois nem tudo que me vem à mente é pensamento. Há em nossas mentes ideias que parecem serem produzidas no intestino. E dizer o que vem à mente pode ser constrangedor, quando não, incriminador. As pessoas, se as respeito, se as quero bem, merecem de mim inteligência, conhecimento, honestidade intelectual, bom senso, mesmo se digo algo por pura graça. Por isso que se deve pensar antes de falar. É o pensar um direito. E todos tem o direito de pensar e falar o que pensa. No entanto, insisto, falar o que pensa não é falar o que vem à mente; falar o que vem à mente é desastroso, quando não criminoso. Falar é se expor. Quem pensa, pensa sua responsabilidade, sabe que se diz em sua fala. De mim para mim mesmo posso falar o que bem quiser, até coisas indigestas. Enquanto cidadão o meu direito não é o de falar o que eu bem quero, o meu direito é o de falar o que eu penso. E pensar me faz, por vezes, guardar silêncio. Nem tudo que penso merece ser falado. Pensar é um exercício, falar o que pensa uma responsabilidade.

ANSEIO SER DURAÇÃO

 


A poesia é um dom que não tenho. Na verdade, não tenho dons. Sou totalmente despossuído.  A realidade é a composição de um conjunto de ilusões. E somos mais que a totalidade de nossas ilusões. Homem algum pode dizer-se por si mesmo. O que de nós sabemos, de antemão, nos foi dito. Eu sou é uma pretensão, uma arrogância. Em todo dizer o ser é o não dito, o que escapa ao afirmado e ao negado. Antes de se formular uma hipótese e passar a persegui-la, se conjectura... Somos conjecturais, um ser que é para o outro, que em si não é totalmente. A totalidade nos escapa entre uma ilusão e outra.

Eu sempre acreditei que eu haveria de ser breve, não passaria dos trinta. Ensaiei não chegar aos quarentas. Um salto mal dado custou-me fraturas da tíbia e do fêmur, meses numa cadeira de rodas o andar apoiado por uma bengala. Uma dose excessiva de remédios que resultou náuseas, vômitos, confusão mental e preocupação nos familiares e amigos. Ensaios erráticos.

Não escolhemos o dia de nossa partida. Se não for a hora, a corda entorno do pescoço não sufoca, arrebenta, e do salto se arrebenta todo, mas o suspiro permanece, dolorido, com sequelas, mas não expira. Cabe à morte decidir o momento, a hora. É quando você menos espera, sem aviso. Tenho aguardo que ela se me apresente. À janela vejo o sol nascer, acompanho o dia se por, me atarefo em coisas sem a menor importância. Que importância há versos que amarfanho e lanço ao lixo? Não há importância alguma. Nasci desimportante. Sou o Midas da desimportância. Nem a morte se interessa por mim. Há dias que converso com a faca, procuro provocá-la. A faca esboça um sorriso condescendente. E só!

Nasci para ser breve, mas a brevidade é tão relativa quanto nossas certezas de nós mesmos. Homens e mulheres mudam de um instante a outro, são seres instáveis, perfectíveis, nunca os mesmos.  A vida é ilusão. É insano querer viver. Não há porque sentir-se em casa no mundo. O mundo é lugar de passagem, não de permanência. O mundo é lugar de insatisfação.

Só na morte reside o estar bem, ela nos livra de nossas ilusões. Ela é uma mudança de perspectiva, uma passagem do conjunto de todas as nossas ilusões para a certeza única. Mircea Eliade a define transcendência da condição humana; retorno à fonte de vida universal.

Enquanto não transcendemos, devemos arranja um motivo, um ideal, uma ilusão que nos motive a permanecer. O noticiário me convida a novos ensaios. A faca faz-se de sonsa. 

Como morrer, não podemos determinar quando e onde começamos a amar. Amar é um acontecimento inesperado, imprevisível, simplesmente acontece. Hoje eu conheci esta menina. Não pude não me apaixonar. Eu ia, ela vinha, ambos apressados, de modo que, mal trocamos olhares. Seu sorriso discreto ascendeu-me desejos de voar. Por um instante a existência, a minha existência lampejou um futuro improvável. A poesia é um dom que não tenho. Há ilusões que precisam desta língua. O que salva o amor é a poética. A estética perece, a poética imortaliza. A menina seguiu seu caminho apressado. Eu a segui preenchido de um desejo de não tempo, de firmamento. Ainda o seu perfume me inebria. A morte deveria nos sobressaltar ao mesmo tempo que o amor, este amor ainda puro, sem anseios de posse.   Prendo-me a atividades banais de amarfanhar versos e arremessá-los ao lixo. O inesperado apresentou-se a mim, escorro a faca para a gaveta. Anseio ser duração...