“Ou somos uma civilização, ou somos um apanhado de bárbaros” (Rodner Lúcio).
Eu não sou um homem político, mas acompanho a política e me posiciono à esquerda, se defender educação pública de qualidade, educação critica, que não descuide do conhecimento, mas que não faça deste conhecimento justificativa para nossa vergonhosa desigualdade social, mas, pelo contrário, faça do conhecimento um ponto de apoio para a intervenção e a inserção no mundo, em vista de combater desigualdades e injustiças. Se isso for ser de esquerda, eu sou de esquerda. Eu sou de esquerda se de esquerda for defender o SUS e a Universidade Pública para os filhos e filhas da maior parcela de nosso povo, os que não contam. Eu não defendo um estado mínimo nem um Estado absoluto, eu defendo um Estado do tamanho das necessidades da maior parcela de seu povo, desta que se equilibra em empregos precários, em subempregos (empreendedorismo) e na informalidade para viver. Se acreditar que a segurança que tanto ansiamos não está no aparato policial (de uma policia preparada para ser capitão do mato e não guardiã de nossas vidas e respeitadora de nossa dignidade), mas na educação, na distribuição de renda, na melhoria das condições de vida das parcelas em vulnerabilidade social, no combate ao tráfico de armas e de drogas, nas fronteiras, nos condomínios de alto padrão, nas organizações comerciais, nas articulações palacianas, nas milícias, e não em nossas comunidades. Não é rotulando a todos nós de bandidos e nos matando com “balas perdidas”, ou nos prendendo indiscriminadamente, que venceremos a violência. Apenas a institucionalizamos. Se defender menos polícia e mais promoção social, mais intervenção cultural, mais práticas esportivas, mais espaços de convivência, aliados à educação formal é ser de esquerda, eu sou de esquerda. Se acreditar que as pessoas têm o direito a um julgamento justo, independente do crime que cometeram, brando ou hediondo, e que só podem cumprir pena após condenação judicial, esgotado todos os recursos; que prisão preventiva ou cautelar não é cumprimento de pena e não podem ser usadas como instrumento de intimidação, de perseguição e para negociatas em que se forjam “delações”, que seu prolongamento é falha do sistema investigativo, da promotoria pública, do judiciário e do sistema prisional e caracteriza não nosso desejo de justiça, mas nossa vontade de vingança contra um mal que receamos sofrer, é ser de esquerda. Mesmo que ingênua, minhas posições são de esquerda. Manter pessoas presas porque, se livres irão, numa hipótese factível, nos agredir, é um crime não contra a pessoa; é um crime contra a humanidade. Só em regimes autoritários se condena por antecipação. É a morosidade do sistema que precisa ser questionado, não nossos direitos. Ninguém deve estar preso sem assistência jurídica, sem previsão de julgamento. E quando julgado e condenado a pena deve se dar em ambiente humanizante e não degradante. Temos quase 200mil pessoas presas neste país sem um único julgamento. O mínimo que elas merecem é uma condenação, não de meus medos e de meu ódio, mas da justiça. Ou somos uma civilização, ou somos um apanhado de bárbaros. O bom senso não encontra morada no ódio. E vivemos um momento em que as pessoas estão odiando por antecipação, nutrem desejos de vingança antes de sofrerem qualquer ofensa, um problema para a saúde mental que alguns têm transformado em instrumento político. Ou retomamos o caminho do bom senso, do diálogo, do debate civilizado, ou estamos fadados a um genocídio. É onde o medo e o ódio, como política, nos levam.
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