sábado, novembro 16, 2019

CONSCIÊNCIA NEGRA




“É verdade, as pessoas não nascem racistas. Mas se se tornam é porque o racismo existe. E reconhecer sua existência é o primeiro passo para combatê-lo.” (Ildes Comparato).

“O racismo é a pretensão de ser superior a uma pessoa ou grupo humano, devido sua etnia. E tal pretensão te leva ao ponto de submeter a pessoa ou grupo humano a seus caprichos e descartá-los como se descarta um objeto inutilizado. É uma doença do ego.” (Josias Capello)

A expressão "consciência negra" foi cunhada pelo ator político anti-colonialista Sul Africano Steve Biko. Steve Biko tinha 30 anos, quando foi preso, torturado e assassinado pelo Apartheid em 12 de setembro de 1977. Ainda estudante de medicina, ele criou a Organização dos Estudantes Sul-Africanos (SASO, em língua inglesa).
Na África do Sul, o movimento de Biko reclama o reconhecimento do racismo e da condição subalterna do sujeito negro. Para ele tomar consciência do racismo, fundado na desvalorização social de homens e mulheres, submetidos a um regime de opressão é o primeiro passo no caminho da superação do racismo. Steve Biko destacava a importância de modificar a imagem do negro contada pela cultura, pela educação, pela religião e pela política, combatendo formas e manifestações de racismo.
Para Biko a dominação não se dá apenas de forma política, e ou nas estruturas do judiciário. Sua maior incidência se dá no campo das ideias, dos valores, das ideologias. De tal modo, segundo ele "a arma mais potente do opressor é a mente do oprimido.” Ele acreditava que para superar o racismo existente na África do Sul era preciso desconstruir o discurso desprestigioso acerca do homem e da mulher negra, criando uma ideia oposta, de força e orgulho negro. Para Biko o confronto do racismo com a consciência negra produziria uma síntese mais humana, construindo um país igual entre negros e brancos.
Assim a consciência negra não propõe um confronto entre pessoas, mas entre mentalidades, de um lado a racista e colonizadora e de outro a da valorização e emancipação do oprimido, marcado pela pigmentação de sua pele.
O movimento de Biko e suas ideias irão reverberar no Brasil já na década de 1970. E em julho de 1978, com o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), o dia 20 de novembro passa a ser um dia de combate ao racismo. 20 de novembro recorda a morte de Zumbi de Palmares em 1695, Neste gesto, o movimento negro brasileiro elege a luta do Quilombo dos Palmares como gancho para a reflexão acerca do tratamento desprestigioso e desrespeitoso dispensado a homens e mulheres no Brasil devido a pigmentação de sua pele.
Não podemos ignorar que, ainda hoje, pessoas são destratadas, humilhadas e até mortas devido a pigmentação de sua pele.  O entendimento desse sistema de desvalorização do ser humano segundo a pigmentação de sua pele e das consequências que ele acarreta como exclusão social, marginalização e criminalização arbitraria de sujeitos e de comunidades é um passo necessário para superarmos nossas contradições.
Para Steve Biko “O princípio básico da Consciência Negra é que o homem negro deve rejeitar todos os sistemas de valores que buscam torná-lo um estrangeiro em seu país natal e reduzir sua dignidade humana básica.” (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/09/12/Quem-foi-Steve-Biko-e-como-ele-se-tornou-um-%C3%ADcone-contra-o-apartheid).
Nem todo homem branco, nem toda mulher branca é racista e, por isso, os não racistas não deveriam se incomodar com o dia de consciência negra. Pois, o dia de consciência negra não é um combate ao homem branco ou à mulher branca, é um combate ao racismo nas estruturas de poder, em instituições e entre aqueles e aquelas que destratam, humilham, marginalizam, criminalizam e executam arbitrariamente pessoas, devido sua etnia ou pigmentação de pele.

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