“É verdade, as pessoas não
nascem racistas. Mas se se tornam é porque o racismo existe. E reconhecer sua
existência é o primeiro passo para combatê-lo.” (Ildes Comparato).
“O racismo é a pretensão de
ser superior a uma pessoa ou grupo humano, devido sua etnia. E tal pretensão te
leva ao ponto de submeter a pessoa ou grupo humano a seus caprichos e
descartá-los como se descarta um objeto inutilizado. É uma doença do ego.”
(Josias Capello)
A
expressão "consciência negra" foi cunhada pelo ator político
anti-colonialista Sul Africano Steve Biko. Steve Biko tinha 30 anos, quando foi
preso, torturado e assassinado pelo Apartheid em 12 de setembro de 1977. Ainda
estudante de medicina, ele criou a Organização dos Estudantes Sul-Africanos
(SASO, em língua inglesa).
Na
África do Sul, o movimento de Biko reclama o reconhecimento do racismo e da
condição subalterna do sujeito negro. Para ele tomar consciência do racismo,
fundado na desvalorização social de homens e mulheres, submetidos a um regime
de opressão é o primeiro passo no caminho da superação do racismo. Steve Biko
destacava a importância de modificar a imagem do negro contada pela cultura,
pela educação, pela religião e pela política, combatendo formas e manifestações
de racismo.
Para
Biko a dominação não se dá apenas de forma política, e ou nas estruturas do
judiciário. Sua maior incidência se dá no campo das ideias, dos valores, das
ideologias. De tal modo, segundo ele "a arma mais potente do opressor é a
mente do oprimido.” Ele acreditava que para superar o racismo existente na
África do Sul era preciso desconstruir o discurso desprestigioso acerca do
homem e da mulher negra, criando uma ideia oposta, de força e orgulho negro.
Para Biko o confronto do racismo com a consciência negra produziria uma síntese
mais humana, construindo um país igual entre negros e brancos.
Assim
a consciência negra não propõe um confronto entre pessoas, mas entre
mentalidades, de um lado a racista e colonizadora e de outro a da valorização e
emancipação do oprimido, marcado pela pigmentação de sua pele.
O
movimento de Biko e suas ideias irão reverberar no Brasil já na década de 1970.
E em julho de 1978, com o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), o dia
20 de novembro passa a ser um dia de combate ao racismo. 20 de novembro recorda
a morte de Zumbi de Palmares em 1695, Neste gesto, o movimento negro brasileiro
elege a luta do Quilombo dos Palmares como gancho para a reflexão acerca do
tratamento desprestigioso e desrespeitoso dispensado a homens e mulheres no
Brasil devido a pigmentação de sua pele.
Não
podemos ignorar que, ainda hoje, pessoas são destratadas, humilhadas e até
mortas devido a pigmentação de sua pele. O entendimento desse sistema de desvalorização
do ser humano segundo a pigmentação de sua pele e das consequências que ele
acarreta como exclusão social, marginalização e criminalização arbitraria de
sujeitos e de comunidades é um passo necessário para superarmos nossas
contradições.
Para Steve Biko “O princípio básico da
Consciência Negra é que o homem negro deve rejeitar todos os sistemas de
valores que buscam torná-lo um estrangeiro em seu país natal e reduzir sua
dignidade humana básica.” (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/09/12/Quem-foi-Steve-Biko-e-como-ele-se-tornou-um-%C3%ADcone-contra-o-apartheid).
Nem todo homem branco, nem toda mulher branca
é racista e, por isso, os não racistas não deveriam se incomodar com o dia de
consciência negra. Pois, o dia de consciência negra não é um
combate ao homem branco ou à mulher branca, é um combate ao racismo nas
estruturas de poder, em instituições e entre aqueles e aquelas que destratam,
humilham, marginalizam, criminalizam e executam arbitrariamente pessoas, devido
sua etnia ou pigmentação de pele.
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