“A consciência humana é um
atributo de um psiquismo complexo e a complexidade desse psiquismo é produzida
em condições objetivas de vida e de educação” Profª. Drª. Lígia Márcia Martins
Se é preciso falar de
consciência humana, vamos falar de consciência humana.
A consciência é a percepção
imediata daquilo que se passa em nós e fora de nós, é a impressão primeira que
temos de nossos atos de nosso estado psíquico e da realidade. É também a
capacidade que tem o espírito humano de imitir juízos espontâneos. Das
operações imediatas nós distinguimos, diferenciamos, relacionamos, tiramos
conclusões. Ela se prende à mera aparência da realidade sem se dar conta das
contradições que movem a realidade e presa à espontaneidade da percepção
imediata produz equívocos, distorções, mistificações, falsas concepções de si e
da realidade.
A realidade é movida por
contradições e conhecer e compreender estas contradições é fundamental para
entendermos como criamos um conceito universal de humanidade em que homens e
mulheres são iguais, merecem ser tratados com a mesma dignidade e respeito e,
ao mesmo tempo, alijamos e impedimos populações inteiras e grupos humanos
específicos de desfrutarem do mínimo de nossa riqueza material e cultural,
condenando-os a condições sub humanas de existência.
Percebendo as contradições
que entremeiam a percepção imediata e procurando compreender tais contradições nós
percebemos que consciência imediata não é a fonte de todo conhecimento e de
toda ação, e pode converter-se em fonte de enganos e ilusões. Daí que a
consciência assume uma dimensão reflexiva, buscando amparo no conhecimento e na
critica ao conhecimento.
Sem conhecimento nós ficamos
presos à mera aparência da superficialidade do imediatismo, e limitamos nossa
capacidade de entender o mundo no qual vivemos e suas contradições. O
conhecimento amplia e aprofunda nossas concepções de mundo, nos auxilia a entender
como natureza, cultura e sociedade se relacionam e condicionam as formas de
nossa inserção no mundo. No entanto, as ciências, as artes, a religião, a
filosofia, fontes de nosso conhecimento também produzem enganos e alienações.
Daí que a consciência precisa ser critica. Para ampliarmos nossa compreensão
das contradições que nos marcam devemos nos ancorar no conhecimento, mas é
preciso um ponto crítico ao conhecimento.
A consciência crítica não
para no conceito de natureza como elemento orgânico necessário à nossa existência,
ela busca compreender as contradições que as ciências produziram e que nos
levam a aniquilar os recursos naturais, a devastar florestas, a produzir o caos
ambiental que ameaça a existência de novas gerações. Da consciência crítica nasce
a consciência ambiental que defende a necessidade de frear a ação
indiscriminada sobre a natureza.
Do mesmo modo a consciência
crítica não se firma no conceito de humanidade universal. Ela questiona a
formalidade dos princípios universais e aponta a distância entre estes princípios
e a realidade concreta. Ainda há homens e mulheres vivendo em condições
sub-humanas, ainda há homens e mulheres que vivem alijados de nossa riqueza
material e cultural, há ainda homens e mulheres que devido sua opção religiosa,
sexual, são perseguidos, destratados e mesmo mortos, há ainda homens e mulheres
que devido à pigmentação de sua pele, devido a seus traços físicos são
destratados, humilhados e mesmo mortos. A consciência critica desperta
movimentos que colocam em causa tais contradições e cobram o avanço em direção
aos princípios fundamentais que regem o conceito de humanidade. O dia de
Consciência Negra não se contrapõe a Consciência humana, ele faz um apelo para
que essa consciência não seja um apego ao espontaneísmo da consciência imediata
que diz: “somos todos iguais”, mas ignora o desrespeito, o destrato, a morte
continua de homens e mulheres, crianças, jovens, adultos, devido a pigmentação
de sua pele. Em seu nível mais elevado a consciência humana é consciência transformadora.
O dia de Consciência Negra aponta para as transformações que devemos enfrentar,
aponta para o nível mais elevado de consciência humana.
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