sexta-feira, junho 28, 2019

PERFUME CHEIRA, MAS NÃO LIMPA SUJEIRA.



  
“Tem certas marmotisses”, dizia tia, “que apenas confirmam aquilo que se pretende negar”. E contava tia: “veja seu nhô Nicodemos, vive pra baixo e pra riba com jornal debaixo do braço, pra provar que não é analfabeto, mas pede pra ele lê as noticias, pede: “esqueci meus óculos na venda”, é o que vai responder. O prefeito é outro, sempre rodeado de mulheres, quando todo mundo sabe que ele, de fato, é invertido” (eu não sabia o que tia queria dizer com invertido, e tia não era de dar explicações). “Quem muito mostra, atrai interesse para aquilo que esconde”, dizia tia. “Coronel faz uma festa que só pra sinhá Rosalva, inté seresta o diacho faz, mas ensaia sinhá Rosalva botar o nariz na porta ou espichar um tantinho o olhar à janela, é sova que sobra”.  “E com Justino, na venda, abraça, paga cachaça, “esse negro é homem bom, tem alma de branco!”, como se tivesse prezando, e leva Justino pra todo o canto em campanha. Com os seus, porém, “não confie nessa gente, nenhum presta”. Tia não me dizia essas coisas, eu que espichava orelha pra suas conversas com vó. “Fia, quem muito perfume usa, isquece que perfume cheira, mas num limpa sujeira”, dizia vó. Sempre que vejo imagens do Néscio com o Dep. Hélio Bolsonaro a tiracolo, eu fico pensando nas conversas de tia e vó. Eram mulheres sabias.

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