quarta-feira, junho 05, 2019

MENOS LIVROS, MAIS ARMAS



Dado o cenário político que vivemos, eu penso que aqueles oito ou dez alunos de uma escola de Carapicuíba, que arremessaram livros e carteiras contra a professora, poderiam ser convidados a irem a Brasília, passando pelo gabinete daquela deputada de Santa Catarina, pelo gabinete do Sr ministro da Educação, onde posariam para uma foto albergados sob seu guarda-chuva, e por fim , visitariam o palácio do governo para uma live ao lado do Néscio que, aproveitaria para reafirmar sua convicção de que nós professores somos um perigo, que somos nós que colocamos o Brasil em risco.
Há anos a escola pública, estrategicamente sucateada, é desprestigiada e atacada. Num pacote só, desmerecemos sua clientela e seus servidores. No centro do desprestigio à escola pública, o professorado, há anos, é o que tem sido mais atacado. E mesmo assim, no limite do sacrifício, desdobrando-se em jornadas exaustivas, com rendimentos cada vez mais restritos, nosso professorado mantém o gosto pelo ensino e a crença de que só nos há saída através da educação.  Mas estamos num limite, pois o ente que deveria ser o respaldo do professorado, promovendo sua figura, valorizando seu exercício, reconhecendo o seu sacrifício para levar adiante o ensino, e através dele, algo de educação, que é a formação do ser cívico, este ente o ataca, e convoca pais e alunos a intimidarem seu oficio.
Tem sido constante os ataques do atual governo aos professores. Generalizando o discurso, ora diz que são mal formados, ora diz que, por serem mal formados, não sabem ensinar, mas, sobretudo afirma que são doutrinadores e ameaçam a família, Deus e a pátria. Deputados, ministro da educação, segmentos de nossa sociedade, generalizando nosso oficio, nos desautoriza, lança sobre nós suspeitas, desacredita-nos. Por esses e outros motivos, não podemos esperar que nossos alunos nos queiram bem ou queiram bem a escola. Quando não se quer bem alguma coisa, ou uma pessoa, por ela não se há respeito. Onde não há respeito, sobra violência.
O signo desse governo e de alguns seguimentos de nossa sociedade é a violência. Não por caso, podemos até intuir um lema para nosso atual cenário: “Menos livro, mais armas”.
Os adolescentes, as adolescentes, envolvidos no caso de Carapicuíba, juntamente com seus tutores legais – eu penso, e corrijam-me se erro: em casos assim falta maternidade e paternidade –, devem ser responsabilizados, se acreditamos, ainda, em urbanidade e no papel de formador do caráter cívico e não apenas do comportamento esperado na sociedade de consumo, que delegamos a professores e professoras. Não há reforma econômica alguma que coloque uma nação de pé. O que faz uma nação ser pungente é a educação que lhe é oferecida, e esta passa pela valorização de seus educadores, mesmo discordando deles.
Mas com o governo que temos, que se silencia sobre a morte brutal de um trabalhador alvejado oitenta vezes por militares e corre a prestar homenagem a quem espanca uma mulher grávida, enquanto deputados, ministros e segmentos de nossa sociedade fazem "arminhas", não podemos esperar outra coisa de nossos alunos. Nesse cenário, os alunos de Carapicuíba merecem uma condecoração. E salve-se quem puder!

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