Geni
Casta, durante uma festa universitária, teve a bebida batizada. E o amigo,
Silas Mal’affare, a seviciou. Geni acordou confusa e nua no reitorado, ao seu
lado uma pequena medalha com o brasão do judiciário. Envergonhada, Geni
preferiu abandonar a universidade. O fato é que Geni percebeu-se grávida. A
família, de valores cristãos e nome a zelar, enviou Geni em viagem ao exterior.
Trazendo ao mundo um menino, Geni o deixou, com a medalha que encontrara ao seu
lado, num abrigo para refugiados, retornou à família e à universidade.
Silas
Mal’Affare tornou-se homem público, comunicador social de grande apelo popular.
É famoso por seus bordões: “Não importa o caráter do rei, seja-lhe amigo, pois
sendo amigo do rei, tudo te convém!”. Silas Mal’Affare, era casado com Ella,
filha do presidente da suprema corte e tinha uma filha, Ellinha.
Geni
tornou-se esposa de magistrado. Com a ajuda de uma amiga, a quem confidenciou
seu drama de adolescência, articulou a morte de Ella Mal’Affare. Mal’Affare,
para não expor sua imagem, tratou a trama como um “lamentável acidente”. O
filho abandonado entre refugiados, certa noite, desembarcou na capital. Trazia
recomendações de nomes importantes do cenário mundial que o adotara. É preciso
dizer que numa noite, antecedendo seu desembarque na capital, o jovem socorreu
um velho cego numa travessia de Berna. Para recompensar-lhe, o velho cego
leu-lhe a mão: “serás o amante dos que te geraram”. “Não seria amado?”,
redarguiu o mancebo... O velho cego apenas riu um riso sacana: “para onde vais,
meu caro, não há tragédias e os dramas são fugazes”.
Com
as recomendações que o acompanhava, logo o jovem instalou-se na capital e
assumiu cargo importante numa estatal. Numa destas festas para autoridades e empresários
influentes, travou contato com Geni e dela enamorou-se. Não demorou muito para
os dois se enlaçarem amorosamente. Certa noite, enquanto o jovem amante dormia,
Geni, vasculhando seus pertences, encontrou a esquecida medalha...
Geni
foi a Disney, fez compras em Miami, adquiriu um Romero Britto e apareceu, meses
depois, rejuvenescida. O jovem abandonado, logo encontrou novo enlace amoroso: Ellinha
Mal’affare.
Durante
o jantar de apresentação, Silas Mal’affare, admirou a boa forma física e a
“elegância intelectual” do futuro genro, na oportunidade que teve, levou-o ao
seu escritório. Naquela noite o estrangeiro dividiu o leito com filha e o pai.
Sobre
a capital caiu um desgraça, e todos se sentiam ameaçados, muitos foram às ruas,
protestaram, denunciaram, pintaram a cara, vestiram as cores da bandeira. A
boca pequena, uns defendiam antigos regimes, outros pretendiam passar a
borracha, outros esperavam algo novo. O governo eleito foi deposto. O novo não
agradava, era decorativo. Silas Mal’affare, em seu prestigiado programa de
auditório, defendeu que “o pais precisava de um administrador, alguém que não
fosse político”, e lançou o genro-amante em cadeia nacional. Logo sua aposta
tornou-se “o mito”.
Geni
Casta, então, num talk show, trouxe à tona a verdade. Apresentou, entre risos,
a medalha; contou, às gargalhadas, seu enlace com o filho rejeitado, e disse
saber, de fontes seguras, do caso de Mal’affare, filha e genro. O escândalo não
durou dias. À boca miúda se repetia: “sendo amigo do rei, porque não?”
No
partido poucos rejeitaram a ideia, não havia aliança melhor, e lançaram, “pela
pátria, a família e Deus”, Edhipo e Geni Casta candidatos a presidente e vice.
Se não ganhassem, não haveria problema: “sabiam como depor presidentes eleitos”.
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