domingo, dezembro 18, 2016

ÉDHIPO




Geni Casta, durante uma festa universitária, teve a bebida batizada. E o amigo, Silas Mal’affare, a seviciou. Geni acordou confusa e nua no reitorado, ao seu lado uma pequena medalha com o brasão do judiciário. Envergonhada, Geni preferiu abandonar a universidade. O fato é que Geni percebeu-se grávida. A família, de valores cristãos e nome a zelar, enviou Geni em viagem ao exterior. Trazendo ao mundo um menino, Geni o deixou, com a medalha que encontrara ao seu lado, num abrigo para refugiados, retornou à família e à universidade.
Silas Mal’Affare tornou-se homem público, comunicador social de grande apelo popular. É famoso por seus bordões: “Não importa o caráter do rei, seja-lhe amigo, pois sendo amigo do rei, tudo te convém!”. Silas Mal’Affare, era casado com Ella, filha do presidente da suprema corte e tinha uma filha, Ellinha.
Geni tornou-se esposa de magistrado. Com a ajuda de uma amiga, a quem confidenciou seu drama de adolescência, articulou a morte de Ella Mal’Affare. Mal’Affare, para não expor sua imagem, tratou a trama como um “lamentável acidente”. O filho abandonado entre refugiados, certa noite, desembarcou na capital. Trazia recomendações de nomes importantes do cenário mundial que o adotara. É preciso dizer que numa noite, antecedendo seu desembarque na capital, o jovem socorreu um velho cego numa travessia de Berna. Para recompensar-lhe, o velho cego leu-lhe a mão: “serás o amante dos que te geraram”. “Não seria amado?”, redarguiu o mancebo... O velho cego apenas riu um riso sacana: “para onde vais, meu caro, não há tragédias e os dramas são fugazes”.
Com as recomendações que o acompanhava, logo o jovem instalou-se na capital e assumiu cargo importante numa estatal. Numa destas festas para autoridades e empresários influentes, travou contato com Geni e dela enamorou-se. Não demorou muito para os dois se enlaçarem amorosamente. Certa noite, enquanto o jovem amante dormia, Geni, vasculhando seus pertences, encontrou a esquecida medalha...
Geni foi a Disney, fez compras em Miami, adquiriu um Romero Britto e apareceu, meses depois, rejuvenescida. O jovem abandonado, logo encontrou novo enlace amoroso: Ellinha Mal’affare.
Durante o jantar de apresentação, Silas Mal’affare, admirou a boa forma física e a “elegância intelectual” do futuro genro, na oportunidade que teve, levou-o ao seu escritório. Naquela noite o estrangeiro dividiu o leito com filha e o pai.
Sobre a capital caiu um desgraça, e todos se sentiam ameaçados, muitos foram às ruas, protestaram, denunciaram, pintaram a cara, vestiram as cores da bandeira. A boca pequena, uns defendiam antigos regimes, outros pretendiam passar a borracha, outros esperavam algo novo. O governo eleito foi deposto. O novo não agradava, era decorativo. Silas Mal’affare, em seu prestigiado programa de auditório, defendeu que “o pais precisava de um administrador, alguém que não fosse político”, e lançou o genro-amante em cadeia nacional. Logo sua aposta tornou-se “o mito”.
Geni Casta, então, num talk show, trouxe à tona a verdade. Apresentou, entre risos, a medalha; contou, às gargalhadas, seu enlace com o filho rejeitado, e disse saber, de fontes seguras, do caso de Mal’affare, filha e genro. O escândalo não durou dias. À boca miúda se repetia: “sendo amigo do rei, porque não?”

No partido poucos rejeitaram a ideia, não havia aliança melhor, e lançaram, “pela pátria, a família e Deus”, Edhipo e Geni Casta candidatos a presidente e vice. Se não ganhassem, não haveria problema: “sabiam como depor presidentes eleitos”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário