Em tempos de melindres, devido ao assédio, temo aproximar-me das mulheres. Um flerte pode ser mal interpretado e, de galanteador, passamos por cafajeste, assediador. A conquista, no entanto, mesmo que para um relacionamento casual, exige a abordagem direta, ou deixada subtendida num gesto, numa cortesia, num chiste...
Na Pasárgada do poeta, creio, não careceríamos de subterfúgios. Bastaria, penso, não sendo grosseiro, convidar a mulher que queremos, sem promessas de amor eterno, para cama que havemos de escolher. Contigo, eu supriria a necessidade de cama: quero amar-te ao vento, sobre a relva, na areia no descançar das ondas. Mas bem sei que o querer de um não é dever ao outro. E, então, mesmo fosse amigo do rei, sei que só posso convidar, esperançoso de aceitação para este encontro fugaz, sem afeto, apenas desejo.
Há, por certo, outras mulheres no salão. O mesmo respeito devo a elas. Posso apenas desejar tê-las em meus braços, numa dança em que havemos de decidir o que virá a seguir. Mas, não posso esperar nem pelo assentimento desta corte. Cabe à dama aceitar conceder-nos ou não a dança. Mas dentre todas, neste reino em que me faltam amigos, é a ti, que como a velha raposa ante a verde uva, contemplo com libido nos olhos. O convite, à depois deste nosso blinde vir deitar-se comigo, não vindo a ser aceito, não torne-se motivo de constrangimento. Prometo-te, sem garantia de cumprimento, correr-te toda em ponta de língua e corpo frêmito “indo à fonte de teu ser”, afagando teus cabelos molhados “com a sutileza que lhe fez à perfeição”, como o sambista cantou... Sou poeta, me tomes no colo, me embales na rede, me deites no chão, na relva, onde quiseres, como fosse o primeiro: faça-me homem; sois uva-vulva-mulher.
Não havendo de ti concordância, ceda-me apenas a dança, e partilhe comigo uma taça, brindando o fugaz instante em que na beleza desse teu olhar eu pude em ti me embrenhar.
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