Conheci
H no ginásio. Era um menino introvertido, ensimesmado. Travei aproximação
devido a um trabalho de artes que a professora exigia ser em grupos. Nós nos
encontramos na casa de Marcela, para o trabalho. Naquela tarde, a gata de
Marcela desapareceu, sendo encontrada morta na manhã seguinte, sem um pequeno
brinco com o qual Marcela a ornava... Passado este incidente lamentável,
durante o colégio troquei poucas palavras com H. Depois do colégio, mudei-me
com minha família, não mais vi Marcela, H, as outras crianças com quem estudara...
Grata
surpresa tive, portanto, quando apresentei-me para o estágio em uma empresa de
comércio exterior. H era trainee da empresa e me recepcionou, apresentando-me
aos novos colegas de trabalho, a meus novos supervisor e coordenador de setor. Durante
meus primeiros meses na empresa, procurei manter distância de H que estava um
tanto quanto mudado, embora continuasse um rapaz reservado, comunicava-se bem,
com cortesia e discrição. No entanto, com o tempo, enamorei-me do “Estranho”,
como o chamávamos nos remotos tempos de escola. Um dia, com certo acanhamento,
H apresentou-me um pequeno brinco: “lembras da gata da Marcela?” Olhei-o
confusa, espantada, admirada, não sei. Sorriu-me tímido, diante minha
estupefação: “brincadeira!” E tímido me convidou: “Quer almoçar comigo?”.
Depois
de um ano de namoro, um pouco mais, nos casamos. Eu abri meu próprio negócio, ele
continuou na empresa e assumiu a direção de logística de importação. Devido a
sua posição na empresa, H viajava o Brasil e o mundo. Algumas vezes,
acompanhei-o, mas tinha as crianças, Helena e Heródoto.
Sempre
que volta de uma viagem, H presenteia-me um par de brincos novos. Assim, tenho
brincos dos quatro cantos do país e de uma dezena de países dos quatro
continentes. Recentemente, enquanto aguardava o dentista, folheava uma revista
italiana e deparei-me com uma “cronaca gialla”, uma espécie de narrativa
policial. A matéria reportava ocorrências policiais em que jovens mulheres, de
localidades diversas da Europa, apareciam mortas. O que atraia a atenção nas
investigações era uma peculiaridade em comum entre as vítimas: a falta de seus
brincos.
Aquilo
me intrigou por alguns dias, comecei a relacionar o relato às viagens de H ao
velho continente, aos brincos que me presenteava, à gata de Marcela. Contatei o
consulado italiano, contei das viagens de H, dos pares de brinco... H está sendo
procurado pela Interpol; acabo de receber a visita de um delegado da Polícia Federal
do Recife. Acabo de receber também um novo par de brincos de alguma ilha do
Caribe. H sempre soube como me fazer feliz.
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