O domingo começa seu vesperal, os últimos turistas preparavam o retorno à enfadonha rotina dos dias cinzas da capital, recolhendo guarda-sóis, isopores, pranchas. Gibi, HQ e Almanaque, bolavam um ultimo naco de mariguana e acompanhavam, pela radio de pilha, Corinthians e Flamengo. Gibi falava de seus encantos por Edileuza, os amigos faziam gracejo: “É muito peixe, pra pouca barca, parceiro!”, ria, um riso bolado, HQ. “Edileuza, compadre, é sereia de arrastar pescador experiente pro mar!”, observava Almanaque: “Num é pra pescador de maré baixa, como nóis, não!”, completou. “Pescador de maré baixa, parceiro, é só se for ocê. Eu, por Edileuza, varo este marzão, esgoto suas águas”. “Edileuza não se deixa escolher, parça. Ela é quem escolhe!”, retomou, com gravidade bolada, HQ. “O escolhido sente o presente, parça! Eu me sei presenteado!” disse Gibi, também bolado. O jogo ia dois a um para o Corinthians, o céu vestia-se de lilás e dourado para seu encontro com as águas azuladas e mansas do mar. A subida da serra se congestiona. Zenon, aos 35 do segundo tempo, assinalava o terceiro gol alvinegro, “um tiraço de fora da área”, o grito de gol de Osmar Santos preenchia a já quase deserta praia. Os amigos celebram o tento. Quando deram conta, Edileuza, seios nus, dança entre as ondas, mergulha, emerge senhora de si, mergulha novamente, balança a cauda reluzente, desaparece entre as águas. O jogo termina 4 a 1 para o Corinthians. Agora na radio Ritchie domina com seu sotaque estrangeiro. Gibi, tomado pela maresia, segue a canção: “Você vem não sei de onde, eu sei, vem me amar...” e suspira: “Um dia eu serie em ti, mar adentro, minha sereia!” No céu, a lua domina rodeada de estrelas.
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