“Eu estou te dizendo: os alienígenas já estão entre nós. Eles nos confundem, nos dividem, para nos dominar. A polarização em que vivemos, é estratégia de dominação alienígena.” (Antônio Carlos, motorista de taxi)
O
ano é 1968, o mês, maio, o dia, 19, a hora, 15, a localidade, a sui generis Bananópolis.
Na data, hora e local especificado, um fato extraordinário aconteceu, sem que
os habitantes dessem conta até o dia de hoje: uma invasão alienígena. Era, como
dito, 15h, do dia 19 de maio do ano de 1968, um domingo chuvoso e frio. Na
madrugada daquele dia nasceu um sujeito torto e destinado a ser breve. Por
volta das 15 h, as preocupações estavam todas voltadas para ele que desatara a
chorar, não era choro de fome, havia sugado a mãe minutos antes. O fato é que
seu berreiro concentrava os cuidados das mulheres, os homens acompanhavam a
radio na expectativa de Palmeiras e Santos, e a invasão alienígena passou
desapercebida. Não era mesmo dos invasores chamar atenção. Na verdade não
poderiam, minúsculo que eram. Alguém poderia dizer tratar-se de uma pequena
semente de dente de leão que espalhamos ao ar com um sopro. De fato, a
espaçonave alienígena era com uma microscópica haste presa a um tufo de 1000
filamentos. Assim: “Cala a boca Rex!”, foi a única coisa que se ouviu vindo do
casebre, além do choro lancinante do recém-nascido. Tranquilamente instalados, os alienígenas puderam
exploraram o entorno. Analisaram as couves e os tomates na horta, uma joaninha
e uma vespa, uma possa d’água próximo da mangueira, Rex, que focinhava o entorno
da mangueira. Depois de coletar dados e processar análises criteriosas, os alienígenas
tomaram uma decisão, instalaram-se na mangueira. Perfuraram seu tronco, acessaram
um veio de seiva e ali se instalaram. Dalí, esses alienígenas tem se espalhado
por Bananópolis. Através da seiva da mangueira eles atingem os frutos. Quando
um Bananópelense consome o fruto, consome junto comunidades de alienígenas, que
passam a colonizar seu cérebro. Ontem,
durante um debate, um bananopolense se saiu com essa: “Opinião não mata, o que
mata são ações, não opinião!”. Alguém tentou lhe explicar que a palavra também
é ato, e que opiniões motivam ações, mas o tipo era impedernido: “Não há crime
em defender algo que seja crime, sendo opinião!” Desconsolado, o seu debatedor
se saiu com esta: “Mano, para de tomar suco de manga, tá te fazendo passar
vergonha! Você não percebe o prejuízo que te causa tuas opiniões estapafúrdias,
quando não criminosas. O que você coloca no seu suco de manga?” Foi aí que
atentei-me: nós estamos sendo colonizado. Nosso abobamento é dominação
alienígena. Assim, faço um alerta: paremos de comer manga!