O nosso prazer era jogar bola, empinar pipa, andar de carrinho de rolimãs. O campinho era rente à casa de dona Beatriz, nossa professora de matemática. Naquela tarde, como de costume, jogávamos bola com olhos no céu. Pipas dançavam em sua imensidão lilás-alaranjada. Um chute mais forte arremessou a bola no quintal de dona Beatriz. Coube-me ir resgatá-la. Ao mesmo tempo, a meninada saia correndo atrás de uma pipa mandada. Gatuno, saltei o muro e espichei o olhar pelo quintal à procura da bola. No jardim, entre as rosas não se encontrava. Não estava, também, na horta, de onde colhi um tomate já amadurecendo. Inexplicavelmente, a avistei rente à parede do quarto de dona Beatriz, propositadamente, embaixo da janela. O chute fora forte, mas não o suficiente para a bola estar onde estava. Fora um anjo, um espírito, algo do gênero, não havia outra explicação. A janela entre aberta chamou meu olhar, que, senhor de si, seguiu a seu chamado sem pestanejar. Entrou por entre a fresta e pousou sobre dona Beatriz despindo-se para o banho... Quando voltei com a bola a gritaria era geral: “foi fazer a bola, é?”; “entrou num labirinto, foi?”; “era o quintal de Alice, era?” Não dava bola aos queixumes. Eu já não tinha interesse no jogo, já não tinha interesse nas pipas. Meus olhos haviam ficado em dona Beatriz. Desde aquela tarde não mais compreendi o Teorema de Pitágoras. Catetos e Hipotenusa não entram em minha cabeça, ocupada com o vértice do triângulo.
sexta-feira, março 19, 2021
TEOREMA DE PITÁGORAS
O nosso prazer era jogar bola, empinar pipa, andar de carrinho de rolimãs. O campinho era rente à casa de dona Beatriz, nossa professora de matemática. Naquela tarde, como de costume, jogávamos bola com olhos no céu. Pipas dançavam em sua imensidão lilás-alaranjada. Um chute mais forte arremessou a bola no quintal de dona Beatriz. Coube-me ir resgatá-la. Ao mesmo tempo, a meninada saia correndo atrás de uma pipa mandada. Gatuno, saltei o muro e espichei o olhar pelo quintal à procura da bola. No jardim, entre as rosas não se encontrava. Não estava, também, na horta, de onde colhi um tomate já amadurecendo. Inexplicavelmente, a avistei rente à parede do quarto de dona Beatriz, propositadamente, embaixo da janela. O chute fora forte, mas não o suficiente para a bola estar onde estava. Fora um anjo, um espírito, algo do gênero, não havia outra explicação. A janela entre aberta chamou meu olhar, que, senhor de si, seguiu a seu chamado sem pestanejar. Entrou por entre a fresta e pousou sobre dona Beatriz despindo-se para o banho... Quando voltei com a bola a gritaria era geral: “foi fazer a bola, é?”; “entrou num labirinto, foi?”; “era o quintal de Alice, era?” Não dava bola aos queixumes. Eu já não tinha interesse no jogo, já não tinha interesse nas pipas. Meus olhos haviam ficado em dona Beatriz. Desde aquela tarde não mais compreendi o Teorema de Pitágoras. Catetos e Hipotenusa não entram em minha cabeça, ocupada com o vértice do triângulo.
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