Em A cabeça e o rabo da cobra, Tolstói narra
o seguinte:
O rabo e a cabeça da cobra discutiam sobre
quem devia andar na frente. A cabeça disse:
- Você não pode ir na frente, você não tem
olhos nem ouvidos.
O rabo disse:
- Em compensação, a força está em mim, sou eu
que faço você andar: se eu quiser, me enrosco numa árvore e você não vai sair
do lugar.
A cabeça disse:
- então vamos nos separar!
E o rabo separou-se da cabeça e rastejou para
frente. Mas assim que se afastou um poço da cabeça, caiu num buraco e sumiu.
Parece-me que a fábula de Tolstoi ilustra bem
o confronto de hoje em Curitiba entre moroloídes e bolsolóides. O que Tolstói
não relata é que enquanto o rabo de cobra vai pro buraco, a cabeça cega e surda
se alia a outra qualidade de cobra: o tal centrão. Esta sim é venenosa.
* In Liev Tolstói Contos Completos. Tradução Rubens
Figueiredo. Vol II. São Paulo: Cosac Naif. 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário