Por Ione Viana de Souza
O
Reino dos céus é como um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou em seu
campo. Embora seja a menor dentre todas as sementes, quando cresce chega a ser
a maior das plantas, e se torna uma árvore, de maneira que as aves do céu vêm
aninhar-se em seus ramos.
Mateus 13, 31-32
O
processo de reflexão em nossa vida é como o germinar de um grão e sua
transformação em planta: lento, necessário, frutífero e contínuo – ancorado na
terra e voltado sempre para o alto.
Ione.
Já reparou numa criança
brincando? Ela transforma a caixa do brinquedo ou do sapato em alguma coisa
incrível. Provavelmente, as crianças sejam seres especiais, que enxergam com os
olhos da criatividade e ainda podem antecipar o futuro no agora: o tempo para
as crianças é o agora porque a urgência é cumprir com o que há de mais sério:
brincar.
Os adultos, movidos pelas
preocupações das coisas urgentes e muito importantes, fecham o seu olho interno
(quem sabe o terceiro olho!) e tudo passa a ser conforme a utilidade. Não o que
é, mas para que serve, orienta o adulto. Sendo assim, agora, interessa o que
está dentro da caixa, a caixa em si é lixo pode ser descartada. E essa lógica
“serve” para tudo: para que serve uma formiga?
E lá se vai pisando... Para que serve uma lagartixa?... Para que serve
uma árvore? E logo muitos respondem: “se não dá frutos, só faz “sujeira”, não
serve pra nada, pode ser derrubada”.
Mas existem aqueles que
fogem às regras, seus olhos internos permanecem abertos em sua entrada para a
vida adulta. Esses são os guardiões, os defensores, os xamãs, as bruxas, os
artistas, os poetas, os educadores; todos aqueles que creem na vida como um
valor maior e na beleza das coisas simples. Há os que, através de gatilhos
promovidos pelas circunstâncias da vida, reencontram o olhar interior, que
capta a coisa em si.
O fato é que os despertos e
os que se despertam, enxergam a importância nos seres simplesmente porque eles
existem e compreendem que com eles existimos. Co-existir é essa a beleza de existir. Assim olhamos as
plantas, as flores, os frutos, os pássaros, os insetos... e percebemos que compõem
a beleza de nosso existir. Das plantas percebemos que guardam tesouros e suas
SEMENTES são seres não em “ato”, mas em “potência” e poderão tornar-se algo
maior tão cheio de vida! Como nos ensinou o mestre Aristóteles.
Daqueles que acolhem a
dimensão do potencial, alguns serão inclinados a coletar, outros em distribuir,
outros em transformar e ainda outros irão instruir sobre as propriedades
físicas e metafísicas da natureza e dos seres que ela gera e que nela se
desenvolvem.
A semente nos põe em contato
com a reflexão sobre os ciclos da vida e a minha vida dentro desse ciclo maior.
Essas jóias podem carregar a continuidade de uma vida, podem ser transformadas em
peças de beleza através da criatividade de mãos habilidosas, mas o ensinamento
que elas nos trazem é sobre o valor contido nas coisas, como o nosso fazer deve
ser também refletido, e que o despertar diário para o que é de fato importante
e o que é secundário e ainda o que é irrelevante deve ser um exercício contínuo
a fim de que não se perca no meio dos papéis e das contas a pagar.
Refletir o nosso lugar no
mundo também é terapêutico, porque compreendemos que a grandeza não está no
tamanho, mas no gesto, na atitude no cuidado com o outro na comum união entre
os seres e a natureza.
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