quinta-feira, abril 02, 2020

SOBRE OS ASPECTOS TERAPÊUTICOS DA BIOJÓIA


Por Ione Viana de Souza 

O Reino dos céus é como um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou em seu campo. Embora seja a menor dentre todas as sementes, quando cresce chega a ser a maior das plantas, e se torna uma árvore, de maneira que as aves do céu vêm aninhar-se em seus ramos.
Mateus 13, 31-32

O processo de reflexão em nossa vida é como o germinar de um grão e sua transformação em planta: lento, necessário, frutífero e contínuo – ancorado na terra e voltado sempre para o alto.
Ione.


Já reparou numa criança brincando? Ela transforma a caixa do brinquedo ou do sapato em alguma coisa incrível. Provavelmente, as crianças sejam seres especiais, que enxergam com os olhos da criatividade e ainda podem antecipar o futuro no agora: o tempo para as crianças é o agora porque a urgência é cumprir com o que há de mais sério: brincar.
Os adultos, movidos pelas preocupações das coisas urgentes e muito importantes, fecham o seu olho interno (quem sabe o terceiro olho!) e tudo passa a ser conforme a utilidade. Não o que é, mas para que serve, orienta o adulto. Sendo assim, agora, interessa o que está dentro da caixa, a caixa em si é lixo pode ser descartada. E essa lógica “serve” para tudo: para que serve uma formiga?  E lá se vai pisando... Para que serve uma lagartixa?... Para que serve uma árvore? E logo muitos respondem: “se não dá frutos, só faz “sujeira”, não serve pra nada, pode ser derrubada”.
Mas existem aqueles que fogem às regras, seus olhos internos permanecem abertos em sua entrada para a vida adulta. Esses são os guardiões, os defensores, os xamãs, as bruxas, os artistas, os poetas, os educadores; todos aqueles que creem na vida como um valor maior e na beleza das coisas simples. Há os que, através de gatilhos promovidos pelas circunstâncias da vida, reencontram o olhar interior, que capta a coisa em si.
O fato é que os despertos e os que se despertam, enxergam a importância nos seres simplesmente porque eles existem e compreendem que com eles existimos. Co-existir é  essa a beleza de existir. Assim olhamos as plantas, as flores, os frutos, os pássaros, os insetos... e percebemos que compõem a beleza de nosso existir. Das plantas percebemos que guardam tesouros e suas SEMENTES são seres não em “ato”, mas em “potência” e poderão tornar-se algo maior tão cheio de vida! Como nos ensinou o mestre Aristóteles.
Daqueles que acolhem a dimensão do potencial, alguns serão inclinados a coletar, outros em distribuir, outros em transformar e ainda outros irão instruir sobre as propriedades físicas e metafísicas da natureza e dos seres que ela gera e que nela se desenvolvem. 
A semente nos põe em contato com a reflexão sobre os ciclos da vida e a minha vida dentro desse ciclo maior. Essas jóias podem carregar a continuidade de uma vida, podem ser transformadas em peças de beleza através da criatividade de mãos habilidosas, mas o ensinamento que elas nos trazem é sobre o valor contido nas coisas, como o nosso fazer deve ser também refletido, e que o despertar diário para o que é de fato importante e o que é secundário e ainda o que é irrelevante deve ser um exercício contínuo a fim de que não se perca no meio dos papéis e das contas a pagar.
Refletir o nosso lugar no mundo também é terapêutico, porque compreendemos que a grandeza não está no tamanho, mas no gesto, na atitude no cuidado com o outro na comum união entre os seres e a natureza.


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