Luiz era chegado numa cachaça, numa pelada nos fins de semana, em churrasco. Analfabeto, pau de arara, tinha mania de pobre. Falava o tempo todo de pobre, que pobre tinha que comer, tinha que estudar. Com Luiz, nossa empregada viajou de avião, o seu caçula formou-se engenheiro, a filha estudou no estrangeiro. O marido comprou uma “caranga”. Que coisa horrorosa! Eu cheguei a pensar que Luiz era comunista, socialista, coisa parecida. Que nada, os ricos nunca ficaram tão ricos. Meu vizinho me abriu o olho, fez-me ver o bandido que Luiz era. Eu não imaginava, o safado mamando em minhas tetas, bancando cesta básica com meu dinheiro, enricando e enricando os seus. E eu? Eu tendo que dividir aeroporto com gentalha. Depois arrumou aquela outra, sem noção nenhuma a coitada: onde já viu pagar hora extra, férias, décimo terceiro para empregada. Demos-lhe uma pedalada, bem dada. Achei bom que Luiz foi preso. Meu vizinho tinha razão, Luiz era um ladrão. O maior ladrão da história da humanidade, eu estava convicto. O desapontamento foi profundo, abraçaria o capeta, mas se tocassem o nome do Luiz, eu subia pelas paredes. Então apareceu este dissimulado, vinte tantos anos encostado. Grosseiro que só, ressentido, magoado, o meu retrato. Escapando pela tangente, avisou que com ele era diferente, que quem gosta de pobre tem que ser metralhado, que Deus acima de tudo. O deus mercado, fique claro. Foi paixão a primeira vista. Não, a primeira vista não. Ele me conquistou no whatsApp. Meus amigos, os irmãos da igreja, as tias velhas, aqueles tios acaba festa, todo mundo trocando fakes, falando dele. Assim conheci o capitão e me entreguei, de corpo e alma, em suas mãos. A decepção com Luiz foi profunda. O Jair me arrebatou! O ódio nos torna vingativos; a devoção idiotas...
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