“A alma melhor é evidentemente a que tem mais capacidade e sabedoria, mas também a que tem mais poder para agir das duas formas em qualquer ação: a nobre e a desonrosa.” (Sócrates, in Hípias Menor)
O que errar nos ensina?
I
Saber-nos
humanos é saber-nos perfectíveis, saber-nos perfectíveis é saber-nos falhos.
Saber-nos perfectíveis, falhos, faz-nos procurar e desenvolver meios de nos
tornarmos melhor. Nesta dinâmica, nos percebemos dotados de criatividade num
mundo já “criado”, com seus mecanismos e suas leis. Nós entramos e saímos do
mundo, ele está posto quando chegamos, e permanecerá, ao menos esperamos que
permaneça, com nossa partida. É conhecendo os mecanismos e as leis que regem o
mundo e as relações humanas nele desenvolvidas, unindo a projetos de
sustentabilidade, solidariedade, preservação, justiça, que nos vamos melhorando...
É na vigilância de nossos atos e atitudes que colocamos nossa criatividade numa
perspectiva utópica: podemos melhorar o mundo, podemos ser melhores. Contra uma
perspectiva apocalíptica: nós somos um “câncer”, um “vírus”, estamos colocando
o mundo a perder, apostamos numa profecia criativa: havemos de ser plurais e
singulares, um só sendo diversidade.
II
Nós
homens e mulheres estamos sempre olhando para o ontem. Ora saudosos de um tempo
idílico, ora críticos dos desmandos e desarranjos que assombram o nosso hoje.
Do sonho à realidade, analisando, questionando, deslindando, conhecendo,
percebemos que da caverna ao hoje fomos capazes de reduzir nossa fadiga por
abrigo e alimento, aliviar nossas dores, prolongar nossas vidas. Mas fomos
capazes, também, de alimentar conflitos, aprofundar desigualdades, ameaçar
nossa existência e do planeta. Nós
homens e mulheres estamos sempre olhando para o amanhã. E o amanhã é sempre uma
mescla de utopia e apocalipse. O nosso hoje, por isso é também uma mescla de
acomodação, resignação, insatisfação, expectativa, temor, iniciativas,
superação, criatividade. Riscos e receios nos mobilizam.
III
Somos
seres que erra. E o erro produz mal entendidos, conflitos, inimizades,
desperdício de recursos, de energias, sofrimento, injustiças. Mas ninguém erra
porque quer. O erro voluntário deixa de ser erro.
Três
sujeitos chegaram à final de um torneio de arco e flecha e deveriam acertar, de
certa distância, uma maçã sobre a cabeça de um boneco. O primeiro a lançar a
flecha acertou a maça em cheio. O segundo acertou não a maçã, mas o centro da
flecha do primeiro arqueiro. O terceiro arqueiro, concentrou-se, mirou o alvo,
respirou profundamente e arremessou sua flecha. Acertou a perna esquerda de um
que assistia a disputa: “Da próxima vez eu não erro!” o tipo atingido pela
flecha entendeu o recado.
O
erro voluntário não é erro, é escolha. Por escolhas se responde.
IV
Sem
certos conhecimentos, ou condições de conhecimento, não há como perceber um
erro... Não percebendo erro, continuamos errando. Nós não aprendemos com os
erros. Nós produzimos conhecimentos que nos revelam os erros. Nós somos seres
produtores de conhecimento, porque é o conhecimento que nos aperfeiçoa, é o
conhecimento que alimenta nossas melhores expectativas. E conhecemos porque
somos capazes de colocar sob análise os resultados de nossas ações,
principalmente quando destoam de seu propósito. E fazendo isso descobrimos os
erros. Não aprendemos com nossos erros,
se não os descobrimos continuamos errando. Aprendemos desenvolvendo ou aprimorando
nossas condições de conhecimento. Não
somos perfeitos, mas podemos sempre sermos melhores. Errar não é uma escolha.
Sermos melhor sim.
Quem
conhece pode, também, escolher errar (aqui entramos numa questão moral). Quem
não conhece só pode errar! No caminho ao conhecimento produzimos erros. Mas não
é o erro que nos ensina, é percebê-lo. O Erro se não é infértil, apenas produz
danos. Não é errando que aprendemos. Aprendemos por querer saber por que
erramos...
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