quinta-feira, setembro 12, 2019

REFLEXÕES SETEMBRINAS




I

Eu tenho posições muito pouco claras e muito pouco serenas sobre o suicídio. Há, a meu ver, suicídios que são resultados de doenças psíquicas reunidas e resumidas na depressão. Há as pressões sociais, políticas, econômicas que influenciam a prática. Ao fim, é só uma forma de morrer. E como uma forma de morrer, é a que povoa meus pensamentos. As circunstâncias políticas e econômicas são propícias, as estruturas psíquicas também favorecem... No entanto, há, ainda, em mim, a vaga consciência de que nenhuma escolha pessoal produz efeitos apenas sobre quem escolhe: toda escolha pessoal atinge a comunidade afetiva de que um faz parte. E minha comunidade afetiva não está preparada para um gesto individual impactante como o suicídio. É esse frágil elo, essa, às vezes, quase apagada consideração de afeto e de responsabilidade aos afetos da comunidade afetiva que me vai firmando. Mas, há dias que o desejo é de renuncia... Há também o receio do fracasso, algo possível em qualquer empreendimento humano. Este é o fio mais resistente.

II

Quando adoecemos, adoecemos também as pessoas a nosso redor, as tornamos reféns de nosso adoecer. As doenças psíquicas, principalmente, aprisionam as pessoas a nós. Um doente é um incomodo... Não devíamos ser gaiolas para ninguém. Não temos o direito de tolher a existência, o desejo de voar das pessoas que nos cercam. Para elas deveríamos ser trampolins, ser apoio, sustento para que desenvolvam suas potencialidades.  Ao adoecer deveríamos nos afastar, e eu tenho estado com esta ideia na cabeça... Se você some, você cria um desespero nas pessoas, morrer as liberta.

III

A morte é uma transcendência da condição humana. Qualquer que seja a maneira, não se dá quando queremos, como queremos. Mesmo no suicídio morrer não é um ato de vontade; é um acontecer. A morte, seja de que modo for, é um acontecer. O acontecer é um kairós, um tempo oportuno, um tempo de graça. Morrer é doação no tempo. A morte tem o seu momento; o ato de vontade as circunstâncias, o gatilho que o dispara... Às vezes, o ato de vontade e o acontecer se encontram, mas nem sempre. A incerteza nos faz hesitar... Eu projeto-me me passar, o acontecer espreita, mas não se aproxima, aguarda as circunstâncias... Eu a certeza de sucesso...

   

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