sábado, agosto 31, 2019

BREJEIROS


Dia desses, em nossa pacata região, uma escola foi alvo de manifestações de pais de alunos que exigiam a demissão imediata do professor de matemática. Os pais estavam inconformados, pois o tal professor, ao juízo deles, ao invés de estar ensinando aos pupilos a arte de somar e multiplicar para subtrair dos que não sabem – não que disseram isso explicitamente –, estava doutrinando-os.  É que, explicando o famoso Teorema de Pitágoras, o professor resolveu ampliar os horizontes culturais dos pupilos com algumas informações gerais sobre o matemático grego. Um dos pupilos levou para casa, a seu modo, o novo conhecimento e o expôs durante o jantar. O pai, à beira de uma sincope, engolia a comida transtornado. Sabia pelo filho que Pitágoras era fundador de uma seita que advogava que o ‘1’ era origem de todo o universo e os elementos da natureza regidos por ordens numéricas. O pai levou sua contrariedade ao púlpito e motivou um movimento contra a escola e o professor. Exigiam, os pais enfurecidos, que se queimassem os livros de matemática e que os nomes de Pitágoras e sua esposa, a Hipotenusa, fossem declarados subversivos e perigosos à sã doutrina de que o universo é regido pela grande Consciência Cósmica, que ordena os elementos da natureza e atribui ao gênero humano medir a realidade como lhe parece, declarando ser o que é, e não ser, o que não é... Acatando o manifesto, o dirigente de ensino da região determinou que “se recolha os livros de matemática”, e “suspende o ensino da mesma, até que se revise o Teorema de Pitágoras e o ajuste aos valores da tradicional família brejeira”. (FOLHA DE BANANÓPOLIS, Do correspondente de Brejeiros). 

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