Quando o dia da paz renascer
Quando o Sol da esperança
brilhar
Eu vou cantar... (Utopia, Zé
Vicente)
Eu sempre acreditara que
seria breve, que havia nascido para poucos dias, poucos anos, que não passaria
dos trintas. Ensaiei não chegar aos quarenta, ensaios erráticos, que apenas
trouxeram preocupações a terceiros. Esses ensaios ensinou-me que um suicida não
escolhe o dia de sua partida; contra a morte não há vontade, não basta querer é
preciso que a morte queira, é ela quem escolhe o momento. Senão for de sua
vontade, a corda arrebenta antes do sufocamento, a queda quebra os ossos, mas
não dilacera os órgãos, não te conduz para além da dureza do chão. Tenho aguardado, então, que ela se apresente,
que ela me decida. Há, porém, esses dias difíceis, dias em que o noticiário
faz-se me convite a novos ensaios... Entro, então, em batalhas perdidas, está
sim minha sina. Faço aqui minhas as palavras de Darci Ribeiro, eu sempre estive
do lado dos que perdem: dos que perdem a terra, perdem os filhos, perdem a
dignidade, mas que conservam a utopia, a verdadeira insanidade.
Insano é querer viver um
outro dia que já se anuncia em trevas... Amanhã o sol não vai brilhar, os
botões não florescerão, cães fardados pisotearão as sementeiras e árvores serão
podadas antes dos frutos. Os que sonham um outro mundo, um mundo em que não
sejamos números – números de uma estatística perversa marcada de balas perdidas
e quedas de edifícios – sentirão o peso da mesquinhez, da arrogância, da
intolerância dos senhores. Amanhã, mais uma vez, a utopia sucumbirá à ideologia
supremacista. Amanhã não há de ser “Tempo novo de eterna justiça/ Sem mais ódio
sem sangue ou cobiça.” Não, amanhã não haverá canto ou poesia, amanhã é
tirania...
Mesas cheias de pão, cercas
e muros ao chão, o povo na rua a sorrir é só a insanidade que alimenta-me
enquanto a morte não me decide. Amanhã, então, haverei de entrar em outra
batalha perdida, que é minha sina: que o decreto que encerra a opressão triunfe
ou que a morte sorria pra mim.
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