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deveriam apenas nos divertir, mas me levam a pensar e a formular conjecturas. O
livre arbítrio é a possibilidade de escolha entre, ao menos, duas
possibilidades de igual medida, em que a necessidade não impera. A sede me
impõe beber e não comer. A fome me impõe comer e não beber. Numa situação em
que não há fome ou sede, eu me sinto livre para comer e beber, ou só comer, ou
só beber. Só há liberdade (livre-arbítrio) onde a necessidade não me impõe.
Redundando, onde há imposição, não há livre arbítrio. Depois, onde não há
opções, não há livre arbítrio. À "salvação" se opõe a
"danação", e nem “salvação” (céu), nem “danação” (inferno) são
necessidades: são possibilidades, são propostas. Deus não te impõe a salvação,
te a propõe. Em toda escolha está implícito o que se deseja alcançar e o modo,
ou meios, para se alcançar o que se deseja. Entre um arroz "soltinho"
e bem temperado com um feijão de mãe e um prato de miojo, há exigências de
preparo bem diversas. Quem espera em um prato de miojo o gosto de uma refeição
materna, há de desapontar-se. Para se tornar campeão em uma competição o atleta
sabe que precisa treinar e participar de uma série de disputas. Não se torna
campeão apenas escolhendo ser campeão. É preciso seguir as regras da
competição. Deus não impõe a salvação, propõe-na. O que está implícito na proposta
divina, a salvação, são as condições para alcançá-la. A danação também tem suas
regras, uma delas é a de não se arrepender de tê-la escolhido. Como esta
possibilidade sempre existe. Sim, escolhas são riscos, e são sempre permeadas de
incertezas. Ao longo de um processo, podemos sempre nos arrepender de tê-lo
começado. Então, há sempre a possibilidade de nos arrependermos de nossas
escolhas. Em tais casos, Deus ai se encontra disposto a nos oferecer sua graça!
À pergunta: "se eu fizer algo que você não gosta eu vou pro inferno, que
liberdade é essa?", Deus não responderia: "você é livre pra fazer o
que eu quiser!". Não, a resposta divina seria outra. Seria: "você
sabia que eu não gosto, e sabia das consequências. O sentido da liberdade é
este: saber das consequências antes da escolha. Isso eu nunca te escondi!"
Esta arenga toda só tem sentido se acreditássemos em Deus, não é o caso. O
livre arbítrio só faz sentido se acreditamos em Deus. Sem Deus, o livre
arbítrio não faz sentido (redundar, para reforçar). Nossa época é a época do
não sentido. Nós estamos condenados a viver circunstancialmente, e as
circunstâncias nos impõem infinitas possibilidades. Irremediavelmente sem Deus,
estamos escravizados à ilusão de que estamos fazendo escolhas, quando estamos
apenas respondendo às necessidades do momento. O mundo nos impõe sermos livre,
mas onde há imposição não há liberdade. Pulamos do livre arbítrio ao absurdo.
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