“De
casulo sai Jacaré. E de ovo de Jacaré, pode sair girafa?”
A
epigrafe é uma rememoração de um evento longínquo, que sempre esteve entre minhas
vontades de resposta.
I
As relações pedagógicas não se dão entre
sujeitos simples, as relações pedagógicas se dão entre sujeitos plurais-complexos.
O professor é um sujeito complexo, enredado numa teia de relações e situações
com as quais se envolve e se embate. Uma delas, o seu ser professor numa
sociedade de consumo e do espetáculo. O aluno é um sujeito complexo enredado
num universo de valores familiares, comunitários com os quais vai construindo
sua identidade...
II
Envolvendo-se com as ciências nos vamos dando
conta que há três expectativas para a educação. Duas delas deterministas e
pessimistas. A outra, desafiadora e incerta. As pessimistas se dividem entre
aquelas que culpam ou o professor, ou o aluno, ou a escola, pelo fracasso
educacional. “com este professor, com este aluno, com esta escola, não há
redenção, estamos condenados ao fracasso.” Na mesma perspectiva, algumas linhas
pedagógicas falam da família, da sociedade, do Estado... A terceira coloca professores,
escola (enquanto coletivo, e não unidade), alunos nas interdependências da
Educação mesma.
Nesta perspectiva, o centro da Educação não é
o aluno, não é o professor, não é a escola. O centro da Educação e a Educação
mesma. Professores, alunos, escolas, estão relacionados e circunstanciados, mas
não determinados (para lembrar Paulo Freire).
Não são as relações, nem as circunstâncias
que mudam, ou determinam seus destinos. São os sujeitos (professores e alunos)
que trazem em si as potencialidades, as capacidades de se autodeterminarem. Professores
e alunos são seres abertos que se encontram na mesma realidade: a Educação.
III
A abertura que caracteriza os sujeitos na
Educação é o inacabamento, o ser-sendo, a natalidade: capacidade de começar
algo que rompe com o fatídico, o determinado (Hannah Arendt).
Uma Educação centrada na Educação é
promessa-incerta, é esperança que pode espantar (no sentido de nos
surpreender), é milagre: o inesperado no vaticinado.
IV
Eu confesso, tive muitos alunos que julguei
pelo casulo: não chegariam a borboleta, ficariam no meio do caminho. Hoje, os
vejo trilhando os céus como colibris, em busca da flor mais desafiadora: o
saber.
A educação centrada na Educação acredita nos
sujeitos e conduz os sujeitos a acreditarem em si mesmos. Assim, de um casulo
pode sair um mundo e não apenas borboletas. O milagre produz girafas em ovos de
jacaré. Nesta perspectiva, a Educação não garante operários, médicos,
advogados, sacerdotes, políticos; garante sujeitos autônomos, livres, autodeterminando-se.
A
Educação é um processo que aguarda o inesperado, o inédito-viável, o novo que
se dá no ato e na palavra. Palavra que se diz ao dizer o mundo.
V
Eu nunca estive à altura de professorar numa
Educação centrada na Educação.
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