Dia desses, em nossa pacata região, uma escola foi alvo de manifestações de pais de alunos que exigiam a demissão imediata do professor de matemática. Os pais estavam inconformados, pois o tal professor, ao juízo deles, ao invés de estar ensinando aos pupilos a arte de somar e multiplicar para subtrair dos que não sabem – não que disseram isso explicitamente –, estava doutrinando-os. É que, explicando o famoso Teorema de Pitágoras, o professor resolveu ampliar os horizontes culturais dos pupilos com algumas informações gerais sobre o matemático grego. Um dos pupilos levou para casa, a seu modo, o novo conhecimento e o expôs durante o jantar. O pai, à beira de uma sincope, engolia a comida transtornado. Sabia pelo filho que Pitágoras era fundador de uma seita que advogava que o ‘1’ era origem de todo o universo e os elementos da natureza regidos por ordens numéricas. O pai levou sua contrariedade ao púlpito e motivou um movimento contra a escola e o professor. Exigiam, os pais enfurecidos, que se queimassem os livros de matemática e que os nomes de Pitágoras e sua esposa, a Hipotenusa, fossem declarados subversivos e perigosos à sã doutrina de que o universo é regido pela grande Consciência Cósmica, que ordena os elementos da natureza e atribui ao gênero humano medir a realidade como lhe parece, declarando ser o que é, e não ser, o que não é... Acatando o manifesto, o dirigente de ensino da região determinou que “se recolha os livros de matemática”, e “suspende o ensino da mesma, até que se revise o Teorema de Pitágoras e o ajuste aos valores da tradicional família brejeira”. (FOLHA DE BANANÓPOLIS, Do correspondente de Brejeiros).
sábado, agosto 31, 2019
sexta-feira, agosto 30, 2019
PARAGUAÇU
K não batia em ninguém, mas dizia ser valentão e bater em qualquer um. K era um bravateiro, após umas doses, se sentia. Estendia o dedo, aumentava a voz, ameaçava e dizia fazer e acontecer, mas K era só um valentão cuja valentia acabava em dores de cabeça e estomago embrulhado, e dias sumido, envergonhado. Certa noite, um voltava da rua e foi apanhado de surpresa, tomou uma surra sem saber de onde viam as bordoadas que lhe caiam. Já para desfalecer ouviu apenas: “Foi K, pra você aprende!” K que àquela hora bravateava em outra esquina, foi intimado a comparecer à delegacia. Não obstante as muitas testemunhas, K morreu sob custódia da justiça, preguiça da polícia e da língua dos que diziam: “boa coisa não fez, se foi preso: merecia!” Um, filho de pessoa influente, consciente de seu crime e da morte de um inocente, dorme tranquilo, fazendo planos políticos. Em sua campanha o criminoso vai usar o incriminado. K se tornou uma plataforma política: uma luta pela Justiça. As eleições chegando, o criminoso é o favorito! Explica um eleitor: “ele usa ternos bonitos!”. Quanto a seu crime?: “Foi um erro da justiça, que ele promete corrigir!”. Em Paraguaçu as coisas são assim.
quinta-feira, agosto 29, 2019
quinta-feira, agosto 22, 2019
PATO COM LARANJA
Hoje outra árvore tombou
Sem que eu desse conta,
De minha sala condicionada
Hoje outra vida foi interrompida
E festejada
Como um gol de placa
Acompanhei pela tela de 70 polegadas
A mão de Deus não falha
Hoje mais um direito foi tirado
“um excesso que nos atrasava!
Direito de mais atrapalha”,
Acompanho a explicação do banqueiro
Aguardando o jantar: pato com laranja
Pelo cheiro
quarta-feira, agosto 21, 2019
WITZEL: A FERA
Jesus e Paulo sabiam dos riscos de subversão e instrumentalização de seus ensinamentos.
No capítulo VII de Mateus, Jesus encerra o Sermão da montanha, iniciado no capítulo V, dando uma série de conselhos à multidão. E já sabendo como a banda toca, no versículo 15 aconselha: "Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores.”
Também Paulo, em Atos dos Apóstolos, capítulo XX, palestrando aos anciãos de Éfeso, orienta-os: “tende cuidado de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos estabeleceu como epíscopos para pastoreardes a Igreja de Deus, que Ele comprou com o sangue do seu Filho Unigênito. Eu sei que, logo após minha partida, lobos ferozes se infiltrarão por entre a vossa comunidade e não terão piedade do rebanho. Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas, com o intento de arrebatarem após si os discípulos.” (Atos, XX, 28-30). Aos romanos, Paulo exclama: “Rogo-vos, irmãos, que desconfieis daqueles que causam divisões e escândalos, apartando-se da doutrina que recebestes.” (Rm, XVI, 17).
Bolsonaro, Witzel, Dória não são lobos: São a fera “com dois chifres como um cordeiro, que falam como um dragão” (Apocalipse, XIII, 11). E segundo a explicação exegética que tenho: “O dragão disfarçado de cordeiro representa as perversões doutrinárias que seduzem “pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravo” e os subjugam às potências políticas e econômicas”...
Eu tenho para mim que o evangelismo é a mais pura perversão dos ensinamentos de Jesus. Os evangélicos são ovelhas no aprisco de lobos, seduzidas pela promessa de prosperidade econômica e influência política. Mas os lobos: RR Soares, Waldomiro, Malafaia, Edir Macedo, para ficar nos mais gordos, diante das feras, são figuras patéticas. Os lobos não se passam por Messias, a fera sim. E isto não é uma diferença pequena.
terça-feira, agosto 20, 2019
ESPECULAÇÕES DE UMA MANHÃ VAZIA
“O prazer é o encontro do apetite com o tempero na medida justa” (Christine Ramos)
Não existe lei do retorno. Existe a lei do ato e do efeito: toda ação produz algo. Este algo corresponde ou não a nosso desejo. O bem corresponde ao que desejamos; o mal ao que não corresponde. O fato é que nosso desejo nunca se encontra no produto de nossas ações. Assim, de ação em ação, vamos tentando corrigir o mal que produzimos. Não existe lei do retorno: tudo é consequência. Não nos enganemos, não é o desejo a origem do mal. Desejamos sempre um bem, mesmo no mal que praticamos. É nossa imperícia: nossas ações estão sempre aquém , quando não na contramão, do bem que desejamos. Quando não exageramos no tempero, dele nos esquecemos. O resultado de nossa imperícia nos envenena, quando queríamos apenas saborear algo exótico. Não é o desejo pelo exótico que nos mata, é não saber em que dose o exótico se manifesta. Não há lei do retorno, só há resultados que não desejamos, buscando realizar o que desejamos. Nos aproximamos do bem que desejando, aprendendo com nossos erros antes de os corrigir. Não basta aceitar que somos humanos e, por isso erramos. Não é o erro que nos define como humanos, é aprender dele o bem que desejamos. A dor e o sofrimento que sentimos, fruto de nossas ações, nos ensinam que tudo o que queríamos era um bem que não atingimos. O que devemos decidir é se de nossos erros vamos tirar um aprendizado antes de seguir em frente ou se vamos seguir em frente acumulando erros sobre erros, produzindo dor sobre dor. O primeiro bem a ser desejado deveria ser o conhecimento: “Uma vida boa é inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento. Nem amor sem conhecimento nem conhecimento sem amor podem produzir uma vida boa.” (Bertrand Russell).
sábado, agosto 17, 2019
O HOMEM BOSTA
Dia destes, eu explicava à minha sobrinha a origem da expressão “fala mais que o homem da cobra”. O sujeito apresentava-se em feiras livres e praças com um saco na mão, anunciando haver naquele saco uma cobra lendária, vinda da Amazônia. E o sujeito falava “sem tomar respiro”, como dizia minha tia. Ele emendava uma conversa em outra, puxava assunto com os rapazes, fazia gracejo às mocinhas e nada de apresentar a cobra. E falava, falava, falava. De quando em quando, ele fazia rodar uma caneca ou um chapéu pedindo uma contribuição da plateia. Era um espetáculo o homem da cobra! E ele atraia curiosos de todas as idades. Mas feira-livres e praças públicas são também palcos de batedores de carteiras. Você se entretém com o homem da cobra, com o sujeito que cospe fogo, com a contorcionista, com o jogo de dado na caneca, é feira-livre já foi um lugar encantador, e quando se dá conta, lá se foi sua carteira com documentos e economias. Nos tempos sombrios em que estamos, elegemos essa espécie de homem da cobra, sem o romantismo e a eloquência do personagem da cultura popular. Cada vez que abre a boca, é um “deus nos acuda!”, “não há sabão ou pimenta”, praticas de vó, que “emende a língua desse diacho”. Mas o que encanta sua plateia não é sua diarreia verbal não, seus espectadores não pensam diferente e o aplaudem deslumbrados. Seu encantamento é uma caneta bic, que ele não cansa de exibir. E a cada canetada sua, perdemos algum direito, tira-nos educação, saúde, futuro digno. Isto me lembra um dito de vozinha, que era muito sabia: “Fio, não importa se é com o polegar ou com bico de pena que assinamos, o diabo uma hora cobra”. No voto, vendemos nossa alma ao diabo. Ele só está cobrando. O diabo poderia, ao menos, ser mais elegante. Ele tinha que nos entreter justo com o homem Bosta?
terça-feira, agosto 13, 2019
Sentimento de Abismo
Não há uma razão que motive. Acordo,
levanto, tomo café, tomo um livro. Não há mágoa, não há contentamento. Não há
ansiedade por não haver expectativa alguma, não há angustia, nada me tormenta. É
um sentimento neutro, folheando o livro por vicio. Desprendo o olhar do livro
para acompanhar o pousar da borboleta; a flor sob a luz do sol, alguém que
passa e cumprimenta. Manhã de primavera, sendo inverno. Desconheço o motivo. Surge uma ideia de não
ser, de me autopassar ao nada. É ideia que não combina com os planos que
fizestes para nós. É uma ideia pela qual eu vagueio equilibrando-me em teus
sonhos. Os meus eu não os tenho...
domingo, agosto 11, 2019
sexta-feira, agosto 09, 2019
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