sexta-feira, julho 26, 2019

ACOLÁ



 Nas fronteiras de Aqui e Lá situa-se Acolá. E Acolá, não é Aqui, nem Lá. Em Acolá reside Zé di Couves, renomado pé de chinelo, um tipinho dado a surrupiar idosas em ponto de ônibus e crianças em porta de escola. “Zé di Couves não vale um vintém”, dizia dona Izhaurinda, “eu sei o que digo: eu criei o traste”. “Esse Zé di Couves é um imprestável”, dizia um outro num boteco, “finge de morto pra comer o coveiro”.  Ocorreu, então, em Acolá um grande furto ao banco do lugarejo. É, certa manhã os funcionários deram conta que os cofres de particulares haviam sido roubados. O fato é que os larápios não levaram valores em dólares e euros, apenas documentos, neles preservados. A arquitetura do roubo foi tal que os funcionários só deram conta do roubo devido uma nota de jornal. No banco não havia sinal algum de arrombamento ou invasão. Grande alarido se fez em Acolá, entre os muitos clientes do banco, o prefeito, o presidente da câmara, o delegado e o juiz de comarca, e comerciantes e padres e pastores começaram a anunciar terem sido roubados. Diante da repercussão o juiz de comarca tomou frente nas diligências. À boca pequena se comentava que o roubo fora coisa de gênios, de estrangeiros da Rússia. Mas em poucos dias a polícia apresentava Zé di Couves como o ardiloso arquiteto do mais engenhoso roubo que Acolá já presenciara. E para apaziguar os correntistas do banco, o juiz de comarca informou que estava destruindo os documentos. Em Acolá é assim, só não acham o Queiroz.

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