Era maio de 85. Proibindo-me de mostrar à mamãe ou às irmãs,
padrinho deu-me de presente uma Playboy. Na capa Magda Cotrofe. Não havia
advertência alguma de a levar para escola. Partilhei o inusitado presente com
os amigos no fundo da sala. Ficávamos comparando nossas companheiras de sala à
monumental Cotrofe e suas formas. Mas quem melhor se assemelhava a ela era dona
Valdenara, professora de artes, que já era o motivo de nossos sonhos mais audaciosos.
E entre os olhos na revista e nos tributo de dona Valdenara, o paspalho do Adhemar
resolveu tirar o “brinquedo” pra fora. Não prestou. “Professora”, gritou Maria
Regina, “olha o Adhemar com safadeza”. Fomos todos pra diretoria. Na época não
tinha delação premiada, Adhemar assumiu ser o dono da revista e todas as
consequências seguintes. Pegou cinco dias de gancho, com direito a umas sovas
da mãe. O meu prejuízo foi ficar sem a revista. Para nossa alegria, logo surgiu
uma Penthouse que o pai do Edgar importava dos Estados Unidos. Estas lembranças
vieram-me à mente enquanto aguardava na fila do caixa e avistei uma moça, um
pouco mais de 20 anos, nas gôndolas de frutas. O fato é que a moçoila pareceu-me
familiar. Lembrei-me da professora Valdenara, dos idos tempos escolares, da patota
do fundão, “as maiores diabruras e as melhores notas”, costuma lembrar Adhemar,
meu parceiro de dominó e cunhado mala. Não
resisti, abandonei a fila e segui a beldade que se dirigia aos frios.
Aproximei-me: “Desculpe incomodá-la, você, por acaso, é parente da professora
Valdenara”. A moça, surpresa, abriu-me um gentil sorriso: “Sou sim! Sou sua
neta!”. “Eu fui seu aluno, em meados dos anos 80”, expliquei-me, emendando: “como
ela está?”. A moçoila deu-me informações positivas de dona
Valdenara que curte a aposentadoria entre Itaparica e Lisboa. Pra fim da
conversa ousei perguntar-lhe o nome. “Magdha”, respondeu-me com o mesmo sorriso
de dona Valdenara quando lhe arguíamos. Fazia tempo eu não tinha sonhos tão
ousados em que o passado mistura-se a um futuro improvável.
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