Na semana em que padrinho
foi morto, ele esteve em casa. Trouxe uma sacola de jambo, uma penca de
bananas, um embrulhinho para mãe. Mãe me deu dinheiro e me deus uma trouxa de
roupas: “Leva em sinhá Quitéria, ela vai te dar o dinheiro, passa na venda de
seu Anastácio compra ovos e farinha. A casa de dona Quitéria era de uma lonjura
só. Quando tornei padrinho já havia partido. Mãe se desfez das bananas e do
jambo. Fui esperar pai na porteira com Filé, nosso cão, um “amarelado
imprestável”, como dizia pai. Não foi por querência, juro, soltei que padrinho
tinha vindo em casa. Não falei das bananas nem do jambo. Pai entrou em casa já
nervoso, arriou seu bornal e saiu de volta. Os olhos de mãe eram apenas
apreensão. Pai tornou tarde, embriagado, surrou mãe, quebrou móveis, desapareceu
pras bandas do paiol cambaleante, praguejando. Mãe, quando o sol amanheceu me
surrou e chamou-me de tudo quanto é nome ruim. Naquele dia pai não voltou pra
casa, nem no outro, nem no outro..., nunca mais o vi. Veio, então, a noticia de
que padrinho fora encontrado morto: “dois balaço no peito”, próximo do ribeirãozinho.
Mãe dizia que a morte de padrinho foi sua libertação da tirania de pai. Ela
conservou toda a vida o embrulhozinho que padrinho lhe trouxera. Também, daí: Redenção, nome de minha irmã, que nasceu meses após todo esse ocorrido.
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