Divirge mais eu se conhece é di
piquininho. Nóis morava na fazenda de seu Rivaldo e ia junto pra escola. Estudávamos
na mesma sala com a mesma fessora dona Martilde. Nois cresceu junto então. Já mocinho e Divirge mocinha eu me anamorei de
ela. Eu ficava espiando Divirge ir no riachinho lavá os panos, busca água pro
banho. Foi então que meio em testa espiá Divirge se banhando. Não tinha ma
intenção não, era só que surgiu essa vontade. E eu disse a ela: “sabe Divirge,
eu queria, se ocê me permite, vê ocê como se banha”. “Ozorio”, disse-me Divirge,
“que história é essa? Ocê, tem tino não? Isso é coisa que se pede uma moça? Ocê
cria juízo, viu home!” E Divirge me deixou desacorçoado, seguindo pro riachinho
com cesto de roupa. Os dias passaram e eu não tirava da cabeça a vontade de
espiá Divirge, eu subia pelas paredes, bolava jeito e mais jeito, de fazê-lo de
espreita, mas temia perder a amizade de Divirge e amuava qualquer projeto.
Certa tarde eu to pescando uns lambarizim, com as ideias em Divirge, quando ela
se achegou ao riachinho: “Calorão, não Ozorio?” “É!” arespondi, desanimado. “Se
pesca com calorão deste?” perguntou Divirge enchendo o balde de água. “Refresca
as ideias!” arespodi sem muita vontade. “É bom de tomá banho! Acha não?”
falou-me com malicia na fala. “Mãe foi
prosear com dona Catarina, eu proveito pra me refrescar, depois faço um café
fresquinho, tem broa, quer não?” Encheu o balde: “Caso aprecie lanchar comigo,
deixo a porta aberta”, saiu balouçando as ancas. Demorei um instante para dar
tino à coversa de Divirge. Cheguei esbaforido à casa de Divirge, fui entrando
respirando com dificuldade e cheio de uma coisa no peito que me desorientava. Divirge
se banhava num quartinho no fundo do corredor. A porta era entre aberta, pensei
abri-la, mas não fiz, fiquei espiando pela fresta. Divirge se banhava de caneca
nuinha como veio ao mundo, sorrindo pra fresta, brincava com as mãos sobre o
corpo... “Fiz broa e café, tomo um banho...” Há 30 anos fazemos esse jogo.
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