Na Colônia Penal Juvenil da
provinciana Tupinambá, sob regência de um certo “Santo”, houve uma fuga de
adolescentes na noite de 18 de maio do ano que queiram, cada qual, atribuir.
Ocorre que um dos apenados, teve o infortúnio de, no salto em tentativa da
“liberdade”, fraturar o fêmur e ficar caído ao chão. No calor da circunstância,
três sujeitos responsáveis por assegurar que não houvesse fugas, colocaram sua
condição de homens de bem, pais de família, trabalhadores bem intencionados a
perder. Ao darem-se com o indivíduo ao chão, antes de presta-lhe socorro,
resolveram que deviam deixar-lhe claro que não aceitavam “tiração de ladrão” e
fuga: é uma puta tiração! O adolescente
ao chão foi acolhido a chutes e pontapés. Essa foi a história que Leopoldo, um
fantasma, herança de família, que diz ter sido mordomo no Império de D. Pedro II,
me contou. Contou ainda que um certo Simplicio, assistindo a burlesca situação,
soltou um grito de margens do Ipiranga: “Vocês estão ficando loucos!” Foi,
então que os três homens de bem, os pais de família, os trabalhadores bem
intencionados se deram conta que toda essa dignidade se esvaia no calor da
situação. Foi desta data, então, que o dito Simplicio, filho único de uma mãe
avançada nos oitenta e adoentada, não foi mais visto. Todos os condenam de ter
errado por ter feito o certo. “aqui as coisas funcionam se ninguém vê nada, e
se vê: diz que não viu!”, dizia um dos mais antigos da administração com toda
ênfase. Simplicio, segundo Leopoldo, tinha outras convicções e sempre fora
visto como um apalermado, ele resistia a aceitar que a verdade é a força das
circunstâncias, e naquela circunstância negar o visto era a verdade a ser dita.
Simplicio afirmou o visto. Os homens de bem, os pais de família, os
trabalhadores pagadores de seus impostos o juraram de morte. E todos estavam a
favor deles. Simplicio estava errado. Todos achavam que não fora os homens de
bem, pais de família, trabalhadores bem intencionados que se arruinaram ao se
colocarem a cima de suas atribuições. Fora Simplicio, que ao não aceitar a
verdade das circunstâncias, e ao afirmar o que vira que os arruinou. Tivesse
Simplicio negado, teriam a consciência tranquila. Mas Simplício tem da verdade
sua ingenuidade. O fato é que Simplicio
não foi mais visto. “Não tivesse feito a besteira que fez...” se dizia a boca
miúda e entre risos, fazendo memória de feitos que o desabonasse. Eu não sei o
que Leopoldo quis me ensinar com isso, mas tenho pensado muito sobre...
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