sábado, março 03, 2018

NA COLÔNIA PENAL

O mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por aqueles que assistem o mundo sendo destruídos e não fazem nada. (Atribuído a Albert Einstein)



Na Colônia Penal Juvenil da provinciana Tupinambá, sob regência de um certo “Santo”, houve uma fuga de adolescentes na noite de 18 de maio do ano que queiram, cada qual, atribuir. Ocorre que um dos apenados, teve o infortúnio de, no salto em tentativa da “liberdade”, fraturar o fêmur e ficar caído ao chão. No calor da circunstância, três sujeitos responsáveis por assegurar que não houvesse fugas, colocaram sua condição de homens de bem, pais de família, trabalhadores bem intencionados a perder. Ao darem-se com o indivíduo ao chão, antes de presta-lhe socorro, resolveram que deviam deixar-lhe claro que não aceitavam “tiração de ladrão” e fuga: é uma puta tiração!   O adolescente ao chão foi acolhido a chutes e pontapés. Essa foi a história que Leopoldo, um fantasma, herança de família, que diz ter sido mordomo no Império de D. Pedro II, me contou. Contou ainda que um certo Simplicio, assistindo a burlesca situação, soltou um grito de margens do Ipiranga: “Vocês estão ficando loucos!” Foi, então que os três homens de bem, os pais de família, os trabalhadores bem intencionados se deram conta que toda essa dignidade se esvaia no calor da situação. Foi desta data, então, que o dito Simplicio, filho único de uma mãe avançada nos oitenta e adoentada, não foi mais visto. Todos os condenam de ter errado por ter feito o certo. “aqui as coisas funcionam se ninguém vê nada, e se vê: diz que não viu!”, dizia um dos mais antigos da administração com toda ênfase. Simplicio, segundo Leopoldo, tinha outras convicções e sempre fora visto como um apalermado, ele resistia a aceitar que a verdade é a força das circunstâncias, e naquela circunstância negar o visto era a verdade a ser dita. Simplicio afirmou o visto. Os homens de bem, os pais de família, os trabalhadores pagadores de seus impostos o juraram de morte. E todos estavam a favor deles. Simplicio estava errado. Todos achavam que não fora os homens de bem, pais de família, trabalhadores bem intencionados que se arruinaram ao se colocarem a cima de suas atribuições. Fora Simplicio, que ao não aceitar a verdade das circunstâncias, e ao afirmar o que vira que os arruinou. Tivesse Simplicio negado, teriam a consciência tranquila. Mas Simplício tem da verdade sua ingenuidade.  O fato é que Simplicio não foi mais visto. “Não tivesse feito a besteira que fez...” se dizia a boca miúda e entre risos, fazendo memória de feitos que o desabonasse. Eu não sei o que Leopoldo quis me ensinar com isso, mas tenho pensado muito sobre...

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