sábado, novembro 19, 2016

ENCANTO




Foi Christine Ramos quem me ensinou tudo sobre flores enquanto podava suas rosas e adubava canteiros de jasmim. “Na China", diz-me Christine, “mistura-se flores de jasmim a folhas de chá e a combinação de sabor e aroma resultante é muito apreciado”. Passando a cuidar da orquídeas, foi Christine que contou-me a história de dois monges diante de uma flor. Os dois monges caminhavam em direção à capela do mosteiro para celebrar as vésperas, quando, contornando o jardim, vislumbraram uma rosa de especial encanto. Um dos monges logo se apressou a colhe-la: “vou ornar o altar do Senhor”, disse ao companheiro. O segundo monge interviu: “Irmão, o Senhor já a colocou no lugar em que ela o exprime. Não furte ao olhar do mundo o que o Senhor a todos doa.” O monge seguiu ao lado do companheiro entristecido, queria ter levado a flor consigo. O outro monge levou consigo a flor que contemplou, deixando-a no jardim onde a encontrou. Eu tentava dizer a Christine Ramos de meu ceticismo ateu: “meu caro, dizia-me Christine, sois ateu, mas não sois cego e se sois capaz de encantar-se com um sorriso belo, um olhar penetrante, uma lágrima sincera, se sois capaz de ver beleza numa flor que se abre aos raios do sol, há em ti religiosidade, e se sabes acolher o que te encantas sem o tolher, impedindo-o de ser, és humano, o sagrado no homem!” Depois disso, Christine falou-me Begônias. Escrevo isto porque hoje encantei-me com uma beleza sem igual. A colhi deixando-a ser, apenas ser. Graças à tecnologia e a era digital, pude registrar seu sorriso descomunal.

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