terça-feira, agosto 02, 2016

PUTA


Devido ao sombrio momento que vivemos, o termo ‘puta’ está em voga como ofensa, desnudando nosso caráter hostil e pouco democrático. E cabe um comentário.
Eu já escrevi em algum lugar que o termo ‘puta’ é um advérbio de intensidade: “tive um puta medo!”; “Foi uma puta aventura!” Indica também admiração: “É um puta diretor!” Acostado a ‘merda’ aponta contrariedade: “Puta merda! Que cagada fizemos!”. Com o passado do verbo parir na terceira pessoa do singular mando alguém ao quinto dos infernos. Assim: “Vá a puta que te pariu!” constitui ofensa, não por referência ao oficio milenar, mas “por tratar a mãe do outro”, como me explicou certa feita tia, “como porta do inferno, como morada do coisa ruim.” Com filho, filha, constitui, geralmente, expressão ofensiva. Mas já vi funcionar como admiração: “Seu filho da puta, você conseguiu! Parabéns!”
“O xingamento”, dizia vó, “é destempero, desatino de aborrecimento, de injustiça sofrida, que mesmo padre, homem de Deus, sucumbe. Nem sempre é ofensivo; é, por vezes, desafogo.” Lembro sempre Joaldo, a quem, vendo o mar pela primeira vez, faltou-lhe palavras para sua admiração e saiu-se com essa: “Puta que o pariu, que coisa tamanha é essa!” E todos rimos de seu vexamento.
“Já  ofensa”, ensina vó, “é coisa de gente covarde, gente sem caráter, gente que não tem argumento. Não se vexam de sua mesquinhez e tenta desfazer-se do outro porque não lhe alcança o respeito que pretende e que, de fato, não merece. Como a maledicência é do inculto, a ofensa é do arrogante. Contra a mulher é sentimento de pequenez e vilania.” E ‘puta’ era um dos poucos termos que vó nos vetava.
Em bar de pai, Zózimo, depois do terceiro copo, chorava Beatriz que o abandonava aos braços dos homens do ‘Beko’. O irmão o repreendia: Por que choras, mano, o amor dessa rameira? Seja homem, tenha tino!” Zózimo chorava inda mais, e entre lágrimas retrucava o irmão: “não é pela puta que choro, irmão! Não é pela puta que choro. É pela mulher. Ana Beatriz, meu irmão, é puta: uma Puta Mulher! E é pela mulher, pela puta mulher que é Ana Beatriz, que choro”
 A quem de esquerda, a  quem de direita, acredita que agredir, humilhar, enxovalhar o outro é posicionamento político, meu profundo lamento. Tais comportamento não denotam consciência política (termo fora de moda), mas uma puta imbecilidade, em casos mais extremos covardia. Dos idiotas me compadeço, aos covarde: ides ao quinto dos infernos...

Aproveito a oportunidade para me manifestar: FORA TEMER!!!  

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