Devido
ao sombrio momento que vivemos, o termo ‘puta’ está em voga como ofensa,
desnudando nosso caráter hostil e pouco democrático. E cabe um comentário.
Eu
já escrevi em algum lugar que o termo ‘puta’ é um advérbio de intensidade:
“tive um puta medo!”; “Foi uma puta aventura!” Indica também admiração: “É um
puta diretor!” Acostado a ‘merda’ aponta contrariedade: “Puta merda! Que cagada
fizemos!”. Com o passado do verbo parir na terceira pessoa do singular mando
alguém ao quinto dos infernos. Assim: “Vá a puta que te pariu!” constitui ofensa,
não por referência ao oficio milenar, mas “por tratar a mãe do outro”, como me
explicou certa feita tia, “como porta do inferno, como morada do coisa ruim.” Com
filho, filha, constitui, geralmente, expressão ofensiva. Mas já vi funcionar como
admiração: “Seu filho da puta, você conseguiu! Parabéns!”
“O
xingamento”, dizia vó, “é destempero, desatino de aborrecimento, de injustiça
sofrida, que mesmo padre, homem de Deus, sucumbe. Nem sempre é ofensivo; é, por
vezes, desafogo.” Lembro sempre Joaldo, a quem, vendo o mar pela primeira vez,
faltou-lhe palavras para sua admiração e saiu-se com essa: “Puta que o pariu,
que coisa tamanha é essa!” E todos rimos de seu vexamento.
“Já ofensa”, ensina vó, “é coisa de gente covarde,
gente sem caráter, gente que não tem argumento. Não se vexam de sua mesquinhez
e tenta desfazer-se do outro porque não lhe alcança o respeito que pretende e
que, de fato, não merece. Como a maledicência é do inculto, a ofensa é do
arrogante. Contra a mulher é sentimento de pequenez e vilania.” E ‘puta’ era um
dos poucos termos que vó nos vetava.
Em
bar de pai, Zózimo, depois do terceiro copo, chorava Beatriz que o abandonava
aos braços dos homens do ‘Beko’. O irmão o repreendia: Por que choras, mano, o
amor dessa rameira? Seja homem, tenha tino!” Zózimo chorava inda mais, e entre
lágrimas retrucava o irmão: “não é pela puta que choro, irmão! Não é pela puta que
choro. É pela mulher. Ana Beatriz, meu irmão, é puta: uma Puta Mulher! E é pela
mulher, pela puta mulher que é Ana Beatriz, que choro”
A quem de esquerda, a quem de direita, acredita que agredir,
humilhar, enxovalhar o outro é posicionamento político, meu profundo lamento.
Tais comportamento não denotam consciência política (termo fora de moda), mas
uma puta imbecilidade, em casos mais extremos covardia. Dos idiotas me
compadeço, aos covarde: ides ao quinto dos infernos...
Aproveito
a oportunidade para me manifestar: FORA TEMER!!!
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