Cazuza tem uma canção que, de tanto em tanto, me descreve: O tempo não para. Da canção falta-me uma metralhadora e falta-me magoas. Desconheço também os que me detestam. Se não tenho arranhões é porque não me arrisco a andar na contramão, que dirá correr na direção contraria. Aqui estou mais para uma canção do Zeca Pagodinho: Deixo a vida me levar. Nos dias sim, eu cultivo flores e alimento pássaros. Nos dias não, e nas noites frias, em que eu não devia nascer, eu tenho os beijos de Ione. Então, sem matar, nem morrer, eu vou ficando; remoendo passados, já que não me vejo num futuro. Não faço questão de que minhas ideias correspondam aos fatos: fatos são gatilhos. Pelo beijo de quem eu amo, pela expectativa de um café, num fim de tarde com quem quero bem, me recolho com meus fantasmas. As poucas pessoas com quem me relaciono acreditam que a piscina, ora cheia de ratos – até quando? –, pode ser restituída às crianças. De suas ilusões eu vou sobrevivendo, fazendo de uma outra canção do Chico Cesar minha prece: “Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa”, principalmente: “Da bondade da pessoa ruim”.
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