domingo, abril 16, 2023

TRAGÉDIA ANUNCIADA

 

Quando li “detalhes” da tragédia anunciada – sim é uma tragédia anunciada que pode ocorrer a qualquer momento, em qualquer escola pública ou privada – mas quando li “detalhes” da tragédia de ontem, uma chamou minha atenção e me fez indagar: Por que uma pessoa, aos 71 anos de idade, aposentada, ainda estava em sala de aula ao invés de estar aproveitando a aposentadoria? Um amigo deu uma resposta que muito me agradou: “Ela estava fazendo a diferença na comunidade, na vida daqueles que ela sabe terem necessidade de convívio com pessoas experientes, que podem orientar mostrando caminhos, que sabem que ainda podem contribuir na vida de adolescentes tão carentes emocionalmente e sem perspectivas.” É uma resposta reconfortante. Mas eu disse a ele que, aos 71 anos, a contribuição que se espera de uma pessoa é ela saber viver bem sua aposentadoria. O problema é que nós não podemos, depois de uma vida de contribuição, “fazendo a diferença” na vida das novas gerações, viver com dignidade apenas com a nossa aposentadoria. Se queremos um mínimo de conforto, uma qualquer coisa que denote qualidade de vida, temos que continuar trabalhando, complementando renda. Ontem Elisabete Tenreiro foi vítima de uma violência letal, definitiva. Mas, aos 71 anos, ainda em sala de aula, sofria uma violência silenciosa, disfarçada pelo discurso da entrega a um ideal: “fazer a diferença”. Para não perder qualidade de vida, Elisabete Tenreiro não podia viver só da aposentadoria. Toda outra explicação é ideologia. Para não perder qualidade de vida, perdeu a vida em uma tragédia anunciada.

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