Se
faire valoir par de choses que ne depedent point des outres, mais de soi seul,
ou renoncer à se faire valor. La Bruyère
Afirme
o valor das coisas que não dependa do ponto de vista dos outros, mas apenas de
si mesmo, ou renuncie a julgar.
As
coisas concretas estão aí, a liberdade transita a ausência, aquilo que se retira
de sua concretude e deixa de ser sua. O campo da liberdade é o abstraído da
concretude objetiva da realidade. A flor, enquanto flor, é concretude, esta aí,
fugaz. O ninho do pássaro está aí, logo o pequeno pássaro há de estar, haveremos
de contemplar o seu voo. É o que se abstrai desta concretude: o amor que se
declara na flor que se doa à amada, a expectativa incerta do voo sem gaiolas –
outra presença aí, outra concretude – do pássaro que ainda há de ser, que nos
permite a arte, a crença, o conhecimento, o pensamento, a liberdade. Ser livre
não é dizer o que é no que é concreto no aí presente. Ser livre é dizer do que
é, aquilo que não é do que é, mas é daquele que pode dizer o é do que é. Ser
livre é abstrair das coisas concretas o ser e o devir daquele que diz é. Da
flor doada se diz do amor do amante. Do voo ainda a ser se diz do anelo daquele
que o antecipa e já o contempla. A
liberdade não é deslocada da concretude das coisas, delas brota. Das coisas
dadas, das coisas aí, de sua concretude, a liberdade se lança em voos (abstração
do movimento concreto do pássaro) que configuram o espírito livre. É abstraindo
conceitos, princípios, valores, sentidos da concretude das coisas aí presente que
a liberdade se estrutura e significa aquele que pode dizer é, não apenas dizendo
o que a coisa é e não pode deixar de ser – o pássaro não pode deixar de ser voo
– mas dizendo si mesmo no do que diz da coisa mesma. O pensar é concretude:
pensamos. Não somos livres porque pensamos. Somos livres dizendo-nos no que
dizemos pensar. Ser livre é dizer si mesmo no que dizemos pensar, não apenas dizer
o que pensa pensar. Ser livre é abstrair da concretude das coisas não o que é a
coisa mesma, mas o que somos ou pensamos ser. Eu penso é concretude. Existo não, existo é
abstração. Dizer o que pensa é dizer abstrações que diz de si. Existir não é o
simples pensar, é o pensar o abstraído no pensar, o abstraído que diz de si. O
que penso do voo do pássaro, diz de mim não do pássaro mesmo ou de seu voo, o que
penso do simples gesto de doar flores, diz de mim não da flor ou do gesto mesmo
de doá-la. Não sou o que penso, mas sou no que digo pensar. Só sou livre se
assumo o que digo, dizendo o que penso. Penso, mas só passo a existir
dizendo-me no que penso, só sou livre apropriando-me de mim no que digo do que
penso. Ser livre é ser senhor de mim mesmo, tornando-me senhor, responsável,
por minhas palavras.
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