“As
coisas se deram assim”, começou Baquara Ararê, que entre seu povo quer dizer Sábio
como papagaio. “Quando não era ainda burbulê (a lua), cachipiap (o sol), quando
não era ainda o mundo, e nele não era ainda os Ibiró-biró, pra pescar e fazer
farinha. Quando ainda não existia abá (homem), ainá (mulher), Etê sonhou
companheira Ibi“. Ibi, na língua do povo de Baquara Ararê, significa terra,
enquanto planeta, que para ele é diferente de alorê, a terra em que se planta e
se mora. “Etê”, continuou Baquara Ararê, quando acordou do sonho, Ibi era com
Etê. E Etê fez colar de uaiquira (estrelas) para enfeitar Ibi e fez jamana (a
chuva) para Ibi se banhar e euetu (o
vento) para Ibi se secar. E Etê fez para Ibi cachipiap (o sol) para Ibi
brincar, caçar, plantar, tecer e burbulê (a lua) para Ibi dormir e sonhar. Etê
cobriu Ibi de seu ariê (fogo, espírito).
Ibi alorê (a terra), fez birô (os rios),
cuiàda (as matas), cupuaçu, (as árvores) e fez todo tipo de eimap (animais), e tudo
presenteou Etê. Etê e Ibi dançaram e cantaram e nadaram nas águas de Yguaçu. E
Ibi ficou gravida de Etê, e Ibi fez nascer os Ibiró-biró, que quer dizer filhos
de Ibi do rio, porque Ibi tem muitos outros filhos. E Ibi ensinou Ibiró-biró a
caçar, pescar e nadar. Ibi ensinou também seus filhos a cantar e dançar e
pintar o corpo. E o que os Ibiró-biro aprendem de Ibi, eles ensinam a seus
filhos. Os Ibiró-biró fazem presentes para suas esposas: cocares, colares,
pulseiras, suas esposas lhes fazem presentes: o peixe assado, a mandioca
cozida, o cauim. Quando eles se encontram, Etê e Ibi que neles dançam e seus
filhos são filhos de Etê e Ibi. Toda criança Ibiró-biró é sagrada. É Etê e Ibi continuando a criação.” Depois
disto, Babaquara Ararê sumiu no profundo das matas, onde seu povo não se deixa
encontrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário