Em minha infância, a cidade era um canteiro de obras. Próximo de casa havia, então, um alojamento de operários, acredito que deste complexo comercial. Eu me recordo como se fosse hoje, toda esta área era um enorme bosque de vegetação rasteira e árvores de pequeno porte, algumas frutíferas. Ali, o estacionamento, era um descampado, tinha um campo de futebol, em que, também empinávamos pipa. Então vieram as máquinas e os operários, pouco a pouco, tudo foi se transformando comercio e prédios residenciais. Aos domingos, os operários organizavam partidas de futebol, rodas de samba, churrascadas. Um domingo, houve um jogo entre um time organizado pelos operários e o time da comunidade, quem perdesse pagava a cerveja. Seria um dos últimos jogos no campo, dias depois começariam trabalhos de fundação nele. Eu tinha por volta de dez anos, acompanhei pai para assistir a partida. Não havia arquibancadas, operários e moradores se misturavam ao redor do campo. Não havia rivalidade, apenas apostas animadas para um ou outro dos times. O árido era fraterno e festivo. Os jogadores se trocavam no meio do campo, e tinha lá o Marreta, um candango de pouco mais de vinte anos. Assim chamavam o sujeito, porque, segundo dizem, ele quebrava colunas de cimento no punho. E Marreta, embora moço, era mesmo um sujeito forte, de tronco vigoroso, braços e pernas que eram toras. E Marreta, como se estivesse na privacidade de seu banheiro, despiu-se aos olhos de todos, para envergar o uniforme dos operários. Britadeira seria apelido mais digno. O ponteiro do Marreta era algo impressionante. Eu não sei dizer de outros, mas eu me desliguei, entrei em vertigem. do jogo, do pós jogo já não sei relatar quase nada. Mas o ponteiro do Marreta penetrará minha alma. Depois daquele domingo, passei a espiar pai no banho. Mãe um dia pegou. Tomei uma baita surra. Pai pedia explicações. Mãe apenas respondia: “ele, apontava para mim, sabe. É o suficiente!” Depois da surra, mãe levou-me no padre, na mãe de santo, no pastor, no psicólogo. Mãe só desapoquentou quando lhe apresentei Clarice. Mas, mesmo casado, eu não deixava de procurar o “ponteiro mágico”. Visito banheiros de academias, bares, rodoviárias, vou a exibições de gogoboys, consumo pornografia do gênero, mas nada, nada se compara ao instrumento de Marreta. Desde aquele domingo vertiginoso, acordo, no meio da noite, molhado, sufocado. Hoje cedo chegou-me um corpo para ser preparado, sou tanatopraxista. Que Marreta descanse em paz! E que no outro plano ele não sinta falta de nada.
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