quarta-feira, abril 17, 2019

Cacareco


Dia desses eu conversava com tia e Leopoldo, um fantasma de família que foi, segundo o mesmo, mordomo na corte de Pedro II. Falávamos de coisas amenas como do cultivo de rosas e gerânios. Tia contou-nos histórias, Leopoldo anedotas do império e só ele ria. Não sei por qual motivo o atual ocupante de nosso executivo entrou na conversa. Uma pergunta surgiu: como foi possível sua eleição. E Leopoldo propôs uma explicação, lembrando-nos Cacareco. “Cacareco”, disse-nos Leopoldo, era um rinoceronte fêmea do Zoológico do Rio de Janeiro. Esta rinoceronte foi emprestada ao Zoológico de São Paulo e ganhou certa popularidade. Nas eleições municipais de 1959, como voto de protesto, ela recebeu cerca de 100 mil votos, tornando-se a candidata mais votada das eleições... Outro fenômeno de votação de protesto é o palhaço Tiririca. Tiririca em 2010 obteve mais de um milhão de votos para deputado federal, chamando seus eleitores de “abestados”. Associando os dois eventos, formulou-se a hipótese de que era possível eleger qualquer acéfalo a presidente do Brasil. Diziam: “criando um clima de insatisfação política geral, inflamando as pessoas em torno de medos hipotéticos ou até mesmo bizarros, desqualificando o processo eleitoral e a política mesma, poderíamos propor qualquer personagem com amplas possibilidades de vitória num pleito eleitoral”. O clima de insatisfação política e com a política ficou por conta da Lava-jato. Bastou resgatar o antigo fantasma do comunismo e a ele associar um medo bizarro: a mamadeira de piroca. A tudo isso, acrescentou-se as fakenews e o isolamento do único candidato capaz de medrar tal projeto. O resultado está aí”, concluiu Leopoldo. “O Bozó nem precisou fazer campanha”, observou tia. “A democracia traz à tona a força numérica dos idiotas, dizia Nelson Rodrigues”, observou Augusto, que chegou durante a explicação de Leopoldo.

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