Passou nas Casas Bahia e comprou,
em seis vezes no cartão, um liquidificador. No trajeto para casa, carregava o
pacote como quem carrega um troféu ou uma premiação que não vê a hora de mostrar
para todo mundo. Sentia-se dona de si, empoderada. Após um longo período de
desemprego, recebera seu primeiro salário e o liquidificador era a realização
de um antigo sonho. Agora poderia fazer as receitas de liquidificador que
assistia na casa da patroa. Pensando nisso, determinou: “minha próxima compra
vai ser uma smarth TV; uma das grandes!” Quis fazer surpresa e entrou em casa sem
fazer barulho. Já na cozinha, ouviu gemidos sufocados no quarto. “Como, assim?”.
Suspendeu a respiração, aguçou os sentidos, posou com todo cuidado o pacote
sobre a mesa, desembrulhou-o delicadamente e armou-se de seu copo. Silentemente
aproximou-se do quarto, abriu a porta, um sujeito dominava o seu companheiro.
Não pensou duas vezes: desceu-lhe o copo de liquidificador. Lemos hoje na Tribuna:
“Mulher confunde amante do companheiro com bandido e o ataca com
liquidificador.” E na Voz do Povo: “Governo promove campanha: MEU LIQUIDIFICADOR MINHA SEGURANÇA.”
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