sexta-feira, outubro 12, 2018

A CORDA ARREBENTA SEMPRE DO MESMO LADO



Olímpio Gama era um dos poucos homens pretos alfabetizados na década de 30. Por esses dias, seu espírito me ditou o que segue.



Eu sou o lado da corda que sempre arrebenta
O que carrega a responsabilidade
Por qualquer resultado
O povo que vota sempre errado
Não importa pra que lado
Eu sou o destinatário de todas as promessas
E, ao fim das contas, aquele que nada recebe
A não ser a conta ajustada pelo mercado
Neste pleito, há uma diferença patente
Por ismos e fobias,
Troco o debate por xingamentos
Persigo e agrido o diferente
Mas me responda educadamente
O que é o voto, diante de quem financia a disputa?
O que chamamos doação de campanha
Para quem doa é investimento
Na distribuição do bolo, a que migalha meu voto concerne?
Uma moradia descente?
Um salário honesto?
A escola, dos pequenos?
Ou ao ódio e à violência?
Mas desse bolo a fatia grossa a quem vai?
E a cereja a quem pertence?
Meu voto é meu cabresto
Não importa em quem seja
Não importa o meus ismos ou minha crença,
A partilha já está decida
Os que investiram já tem garantida
A contrapartida...
Mas não é isso que estamos decidindo
Não está em jogo formas de governo
Como avançar com o país inteiro
É como iremos conviver daqui pra frente
Se abertos ao debate e à fragilidade democrática
Ou, sob a hoste dos ismos e das fobias, armados até os dentes...
De uma coisa eu estou certo,
Não importa quem vença
Eu sou o lado da corda que sempre arrebenta.
O povo sobre o qual cai toda a responsabilidade
Mas estamos em tempos de cólera
E o que se desperta e se avizinha
Não se pode nomear
E é preciso me posicionar
Prefiro a frágil urbanidade à pura barbárie
Vá de retro, satanás!


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