sexta-feira, outubro 26, 2018

TEM UM CRISTO QUE NÃO ME ABANDONA

I

Era hora do almoço. Nos reunimos em torno da mesa, éramos sete, tinha comida para vinte ou mais pessoas. O padre superior fez as orações de costume, agradecendo nosso lauto banquete e recomendando a Deus providenciar aos pobres e necessitados. A campainha tocou. A secretária veio comunicar que uma senhora com uma criança no braço pedia algo para ela e a filha, que o marido estava desempregado e... Um dos padres, mal esperou a secretária terminar o anúncio. E ainda com a boca cheia, retrucou ríspido: “essas pessoas pensam que somos o bom samaritano? Diga que estamos almoçando, que volte depois...” Neste dia eu comecei a percebe que eu estava no lugar errado... Comecei a desconfiar de mim, de minha fé

II

É que eu vinha de um grupo que costumava se reunir para ler e estudar os Evangelhos. Depois organizávamos coleta de alimentos e roupas que saíamos distribuindo por asilos e creches. Também fazíamos sopas para distribuir a moradores de rua e organizamos atividades de lazer e acompanhamento escolar para crianças de nossa comunidade. Muitos de nós acreditávamos que nos pobres, nos abandonados, nos marginalizados se encontrava o verdadeiro Cristo. Esta fé me levou a morar com os padres...

III

Mas parece que nós líamos e interpretávamos os Evangelhos a nosso modo. Não tínhamos que ser samaritanos, não tínhamos que acolher o necessitado, pra isto tinha a assistência social. Vieram os movimentos religiosos pregando que o verdadeiro Cristo se encontrava na adoração, no louvor. Quem nos conduz é o Espírito Santo, não os estudos. Os estudos, aliás, nos desviam do verdadeiro Cristo. Então começaram a falar de um Cristo Majestoso que nos abençoava com carro, casa, vestidos luxuosos... Bastava ser fiel ao dízimo. Foi ai que eu comecei a negar Cristo...

IV

Eu abandonei Cristo. Mas tem um Cristo que não me abandona. Ele continua caído pelas esquinas, abandonado em leitos de hospitais, aprisionado em nosso sistema prisional. Mas estão dizendo que este Cristo tem que morrer, porque ameaça tomar os bens que o outro Cristo, em sua graça infinita, doou-me. Talvez eu continue lendo os Evangelhos a meu modo, e o Cristo que neles encontro é um Cristo deturpado... Talvez o Cristo que não me abandona eu o tenha fantasiado, que o Cristo verdadeiro não tenha sido escarnecido e torturado... Talvez eu tenha entendido errado, que bem aventurados são os que acumulam riqueza, os que enganam o pobre, o trabalhador e a viúva, com promessas, se fieis ao dízimo, de um céu na eternidade. Talvez o Cristo que não me abandona não tenha falado de perdão, que a mulher adultera, a samaritana no poço de Jacó, o ladrão na cruz, sejam minha criação. Talvez os marginalizados, na verdade vagabundos, preguiçosos, viados, precisam mesmo serem executados, que o Cristo verdadeiro andava era armado...

Há muito tempo eu abandonei Cristo, mas tem um Cristo que não me abandona.

JUSSARA

Tia certa vez contou-nos a seguinte historia:

"Um dia Jussara levou o namorado para apresentar à família. A mãe de Jussara, depois que o tipo partiu, advertiu a filha: “filha, este sujeito não presta!”. Jussara não deu ouvidos. A avó de Jussara a alertou: “filha, este sujeito não presta!”. Jussara não deu ouvidos. A irmã de Jussara falou-lhe do caráter agressivo do sujeito. Jussara retrucou: “Eu mudo ele!” O pai de Jussara a orientou: “Filha a vida é tua, você deve escolher o que é melhor pra você, no entanto, nos preocupamos com tuas escolhas, porque se tu sofres, todos sofremos...” Jussara olhou para o pai e disse: “ele me prometeu fazer-me feliz.” Antes do primeiro ano de casamento, o tipo arrebentou Jussara na pancada e depois a matou. Perguntado o motivo de sua sandice criminosa o tipo respondeu: “Ela queria ser feliz do jeito dela, mas tinha que ser do meu jeito”...."

Disto vó nos ensinou: “não podemos escolher o destino de ninguém, podemos com nossa experiência, com nosso conhecimento, com nossa capacidade de discernimento, orientar, mostrar o erro, ajudar a decidir, mas nosso destino, nós o escolhemos. E a gente sofre quando os que amamos tomam decisões erradas, mas sempre esperamos que eles reconheçam o erro, então nós os abraçamos e recomeçamos, mas quando eles já não podem nem se arrepender das decisões que tomaram, nós apenas sofremos.”



Eu penso que há decisões que tomamos que não nos permitem voltar atrás e recomeçar. E elas não podem ser tomadas apenas com os sentimentos...

quarta-feira, outubro 24, 2018

REFLEXÕES ÍNTIMAS


Num período recente de nossa história instaurou-se um governo arbitrário, autoritário e não avançamos nem politicamente, nem socialmente, nem economicamente, ao final dele eramos dependentes do FMI,do Banco Mundial e da política norte americana. Durante este governo instituiu-se duas formas de “limpeza” dos indesejados, uma voltada aos movimentos de contestação política, outro de controle social. Aos movimentos políticos instituiu-se a perseguição, prisão, tortura e execução pelo DOI-CODI. No polos deste sistema dois personagens de destacam como ícones da barbárie: Vlado Herzogb e Coronel Ustra. A política de limpeza social ficou a cargo dos esquadrões da morte: fundados em um discurso moralista, contra elementos socialmente indesejáveis e de manutenção da ordem pública. Atuou nas periferias e favelas dos grandes centros urbanos, executando quem julgavam ser bandido ou socialmente indesejado. Só no Rio de Janeiro executaram mais de mil pessoas na década de 70. Não, não eram todos bandidos! Quando um dos polos da atual disputa política assume o Coronel Ustra como modelo e defende abertamente a tortura, respiramos tranquilo, porque seu discurso está voltado para a classe política, para os movimentos políticos, principalmente de esquerda. E nós somos "apolíticos", temos horror de política. Mas quanto à "limpeza" social, a eliminação dos que julgamos indesejados sociais, o que não atentamos é que ele pretende inovar. No lugar de esquadrões da morte, nosso postulante a ditador pretende armar a população e deixar a critério do “cidadão de bem”, um sujeito com duvidosos princípios morais, fundada em uma teologia do egoísmo, julgar e eliminar quem ele considera bandido ou indesejável socialmente. Uma catástrofe anunciada, mas politicamente sedutora. Eu tenho me feito algumas perguntas, porque é em minhas respostas que encontro razão para meu voto. Já não importa o que pensam meus amigos, sigo agora um preceito socrático: “sendo eu único, é melhor estar em desacordo com todos que comigo mesmo”. Então me pergunto: eu estou preparado para julgar, condenar e executar quem eu acho indesejado socialmente? AHH, não vai ser eu, haverá critérios... Então tudo bem, me reformulo a pergunta: eu estou preparado para fazer parte deste projeto de limpeza social, cujos personagens já estão demarcados? Terei eu coragem de tirar ou assentir que tirem a vida de alguém, fundado em meus critérios morais? Eu não estaria em contradição com um deles: não matarás? Que parte da oração que faço todas as manhãs e fins de noite (o Pai Nosso), oração que ensinei a meus filhos, eu não entendi, cedendo-me ao ódio ao invés de praticar o perdão? Vou mesmo pactuar com um regime que aposta na violência e não na educação da inteligência, como solução para nossa crise cultural e moral? Sim, mais que econômico-política, nossa crise é cultural e moral e truculência não as resolve! Que experiências pelo mundo deram certo com tal política? Porque eu não poderei dizer que eu não sabia, tenho me feito tais perguntas. Meu voto é ou não um compromisso com tal proposta?

domingo, outubro 14, 2018

NÃO ERA ISSO QUE EU ESPERAVA




Há diante de nós dois sujeitos se propondo a dirigir, nos próximos quatro anos, nosso destino. E o que virá a ocorrer nos próximos quatro anos não ficará restrito a eles, se estenderá por décadas. Seus discursos vinculam nosso futuro a conflitos e contradições internas que arrastamos desde que Cabral aqui aportou. Ao mesmo tempo, seus discursos nos vinculam ao cenário internacional, que temos levado pouco em conta, mas que nos amarra a compromissos e pactos políticos-econômicos, a ajustes que investidores internacionais pressionam para que aconteçam. O mundo nos olha, as agências financeiras, os grandes grupos econômicos, representações políticas e humanitárias, a impressa internacional, todos nos observam, palpitam e projetam futuros tangíveis segundo a escolha que fizermos. Embora o pouco apreço que alguns nutrem por nós Tupiniquins, nós não somos uma nação qualquer no cenário mundial. Então está em disputa, também, como vamos nos postar diante do mundo a partir de janeiro e como seremos vistos aos olhos do mundo. Mas voltemos à disputa interna. Entre nós o que pauta a disputa é um cenário de receios, de medos e incertezas. A este cenário se misturam discursos temerosos e informações tendenciosas, enganosas.  E focados nas figuras dos presidenciáveis, temos pouco considerado que eles representam não a si próprios, mas a determinados grupos e seus interesses econômicos, políticos, religiosos, sociais, pessoais... E nós vamos pregando, em um e outro, etiquetas que se resumem em dois termos: fascismo e comunismo. Alguém me perguntou, dia desses, de qual desses temores eu tenho mais medo. Eu disse-lhe que não votaria por medo a qualquer coisa, mas pelo meu anseio de que a democracia retome o caminho de sua consolidação entre nós, que nossos conflitos e contradições encontrem o caminho do diálogo, do debate, da conciliação para a superação; que o medo apenas acirra os ânimos e turva a razão de buscar o melhor e não o menos pior. Mas depois fiquei conjecturando: será que nós sabemos mesmo o que é o fascismo e o comunismo? Será que nós compreendemos o que eles implicaram? E se ambos nos parecem tão assustadores e repulsivos, porque temos que aderir a um ou a outro? Esses fenômenos são equivalentes? E podemos de fato associar os proponentes à presidência a eles?  Se nós somos capazes de identificar elementos totalitários (fascismo e comunismo) nos proponentes ao comando da nação, é sinal que sabemos alguma coisa de história e de análise de discurso, e sabemos o que uma coisa e outra (fascismo e comunismo) significam e o que concretizaram e representaram na história. Caso não, somos apenas papagaios esquizofrênicos, com medo do que desconhecemos. Se nós somos capazes de saber o que é fascismo e comunismo; devemos saber, também, o que é democracia, garantia e restrição de direitos, respeito à diferença e à diversidade, igualdade de oportunidades etc. E se sabemos estas coisas, talvez nós também tenhamos algum conhecimento de nossa história, de nossa colonização escravocrata à Constituição Cidadã de 1988, da eleição de Collor ao impeachment de Dilma, e somos capazes de reconhecer que ainda não realizamos uma unidade nacional republicana, que respeite diferenças e promova igualdade. Se temos este conhecimento de nossa história e sabemos diferenciar fascismo de comunismo, sabemos avaliar a biografia de Vlado Herzog e Coronel Ustra, para ficar apenas em dois ícones de nossa história recente, subtema desta eleição, dando a cada um o devido valor, respeito e dignidade, tornando-nos capazes de condenar ou apoiar quem faz uso de seus nomes. Caso contrário somos apenas imbecis com titulo de eleitor. Se temos um mínimo de conhecimento, que nos torna capazes de entender o cenário mundial, nossa realidade nesse cenário, a importância que assumimos na América Latina, somos capazes de entender as relações entre política, mídia, religião, justiça, cultura entre nós, dando-nos saber e entender o que estamos escolhendo e a qual preço estamos escolhendo. Se temos capacidade de analisar o discurso de nossos proponentes e classifica-los, devemos ser capazes de estender o olhar aos grupos e personalidades que se nucleiam entorno deles e sustentam suas campanhas e reverberam seus discursos, de observar e avaliar o comportamento e os anseios de seus eleitores e nos perguntar que preço estamos dispostos a pagar por um futuro desalentador. Se não somos capazes de analisar o discurso dos que se propõe a dirigir esta nação, e de analisar os grupos que sustentam tais discursos, seus núcleos de apoio, e, ao mesmo tempo, o comportamento e a expectativa dos eleitores de cada proponente, eu diria que somos apenas seres lunáticos, paranoicos, que substitui conhecimento por informações de redes sociais, ou espera o caos buscando, de alguma forma, dar-se bem com o mesmo.  Estamos papagaiando termos que desconhecemos? Estamos alimentando uma disputa com desinformação e ignorância? Então o problema é psicológico: ante a polarização fascismo x comunismo desta campanha há um elemento sado-masoquista que temos que considerar. Independente do polo a que me situo, eu voto por meus interesses próprios, seja de qual lado eu esteja, eu quero ver alguém sofrendo, purgando nosso fracasso como nação. Eu quero ser o sádico, eu quero ser o que persegue, o que julga, o que condena e o que executa a pena. Em nenhuma outra eleição expusemos tão claramente nossa perversidade, que jogamos às costas de nossos candidatos. Eles têm o discurso deles, eu tenho a minha adesão ingênua ou consciente e determinada. A polaridade, porém, que me importa é outra: ou somos razoavelmente esclarecidos e nosso voto é consciente, podendo eu responder pelas consequências futuras, ou somos apenas idiotas brincando de escolher um destino pautado no medo e não no anseio ou na expectativa de que possamos ser uma democracia de fato. Num processo em que a força e a violência se tornam projeto político, todos já perdemos. Na Crítica do Juízo, Kant ilustrou um modo de pensamento que consistia em ser capaz de pensar no lugar de todo os demais, ele chamou este modo de pensar de “mentalidade alargada”, ele necessita da presença de outros “em cujo lugar” cumpre pensar, cujas perspectivas e anseios devem ser considerados. Nossa capacidade de rotular nossos candidatos e configurar cenários assustadores para ambos deve considerar nosso papel nesse cenário, não como espectador do mesmo, mas como personagem responsável pelo mesmo, atuando nele. É preciso, nesta eleição, ao rotular um candidato, perguntar-me até onde eu me adiro ao rótulo contrário e me colocar no lugar do outro. Este outro é o destinatário de ambos os discursos e chama-se minorias. Se eu sou capaz de identificar fascismo e comunismo, eu deveria ser capaz de entender o futuro dessas minorias em um e outro candidato. Se eu sou capaz de saber o que é fascismo e comunismo eu já me coloco como responsável pela vida do outro e não poderei dizer: “não era isso que eu esperava”. Se eu sei o que é fascismo e comunismo, eu não só anseio, eu desejo participar do destino dessa minoria. Imprimirei esta vontade em meu voto.

sexta-feira, outubro 12, 2018

A CORDA ARREBENTA SEMPRE DO MESMO LADO



Olímpio Gama era um dos poucos homens pretos alfabetizados na década de 30. Por esses dias, seu espírito me ditou o que segue.



Eu sou o lado da corda que sempre arrebenta
O que carrega a responsabilidade
Por qualquer resultado
O povo que vota sempre errado
Não importa pra que lado
Eu sou o destinatário de todas as promessas
E, ao fim das contas, aquele que nada recebe
A não ser a conta ajustada pelo mercado
Neste pleito, há uma diferença patente
Por ismos e fobias,
Troco o debate por xingamentos
Persigo e agrido o diferente
Mas me responda educadamente
O que é o voto, diante de quem financia a disputa?
O que chamamos doação de campanha
Para quem doa é investimento
Na distribuição do bolo, a que migalha meu voto concerne?
Uma moradia descente?
Um salário honesto?
A escola, dos pequenos?
Ou ao ódio e à violência?
Mas desse bolo a fatia grossa a quem vai?
E a cereja a quem pertence?
Meu voto é meu cabresto
Não importa em quem seja
Não importa o meus ismos ou minha crença,
A partilha já está decida
Os que investiram já tem garantida
A contrapartida...
Mas não é isso que estamos decidindo
Não está em jogo formas de governo
Como avançar com o país inteiro
É como iremos conviver daqui pra frente
Se abertos ao debate e à fragilidade democrática
Ou, sob a hoste dos ismos e das fobias, armados até os dentes...
De uma coisa eu estou certo,
Não importa quem vença
Eu sou o lado da corda que sempre arrebenta.
O povo sobre o qual cai toda a responsabilidade
Mas estamos em tempos de cólera
E o que se desperta e se avizinha
Não se pode nomear
E é preciso me posicionar
Prefiro a frágil urbanidade à pura barbárie
Vá de retro, satanás!


quinta-feira, outubro 11, 2018

A NOITE AVANÇA


a ferida já se abriu
já não é mais possível
se opor sem se expor
talvez ainda vençamos
mas os insanos instintos
das hordas sedentas de sangue,
de justiça à bala,
estão despertos,
e, como a noite,
eles avançam,
tomados de arrogância e
impiedade
talvez ainda vençamos
mas a ferida ficará, não cicatrizará
já não é mais possível o diálogo
a convivência é algo insuportável
talvez ainda vençamos,
mas já todos perdemos
é noite em tempos sombrios.
  


domingo, outubro 07, 2018

MANTRA


O mantra é um hino de origem hindu, muito usado no budismo. O mantra é uma forma de oração métrica, repetida pausadamente e constantemente, com o objetivo de relaxar e favorecer a meditação. Segundo seus praticantes, o mantra provoca um estado de tranquilidade e paz interior, influenciando positivamente a pessoa em seus relacionamentos, favorecendo a saúde e produzindo, harmonia e prosperidade. Em alguns casos, os mantras podem ser considerados tipos de encantamento, de defesa contra aspectos de tensão e negatividade do ambiente em que se encontra. No Brasil criou-se o mantra de alienação, de manipulação, com um poder de influenciar politicamente as pessoas. Esse mantra ao invés de produzir relaxamento, paz interior, segurança ante os desafios, desperta preconceitos, intolerância, ódio. A pessoa perde a capacidade de pensar, de questionar, de desconfiar que a estão manipulando em nome de um projeto em que ela será vitima do sacrifício e não o conviva do banquete. Contra este mantra contido em uma palavra “mito”, propomos um mantra libertador: “Ele não!”. Recupere tua paz interior, diga não à intolerância e ao ódio. Respira, inspira. Novamente: respira, inspira. Agora repita: ele não, ele não, ele não, ele não...

sexta-feira, outubro 05, 2018

O VOTO DO MARQUINHO


Dizem que basta pensar positivo para que as coisas se deem. Tem até um livro muito popular que defende tal tese. Ela está na mesma linha da crença que "a fé move montanhas". Então tudo é uma questão de pensar positivo ou acreditar piamente em seus propósitos. A vida é um mar de possibilidades, basta saber nadar e ter coragem para enfrentar as ondas. Depois, "Deus ajuda quem cedo madruga" e "todo esforço será bem recompensado". A pobreza não é um castigo é um desafio, só é pobre, ou permanece pobre, o preguiçoso, o acomodado. Isso de exploração econômica, de divisão de classe, isso é bobagem, pura vagabundagem. Então, vamos pensar pra frente, amanhã é outro dia. Hei de ser rico com a graça e a benção de Deus e a força de meu trabalho. Para ser rico é preciso pensar como rico, ter os valores do rico. Ir já sendo rico na forma de pensar é já uma estratégia... É exemplar neste sentido o Marquinho. Marquinho abandonou a escola no ensino médio, queria começar a trabalhar logo. Foi ser empacotador num mercado de médio porte. Marquinho sempre quis ser rico, pensa que trabalhando e defendendo os interesses do rico, ele será rico. No momento Marquinho está desempregado, cogita ser empreendedor, vai começar nos vagões da CPTM, "um dia, terei minha própria rede de lojas e mercados". Para ser rico tem que pensar como rico. E Marquinho pensa como rico. Ele acompanha o discurso do rico. Se o rico fala contra o décimo terceiro, ele fala contra o décimo terceiro, se o rico reclama dos direitos trabalhistas, ele reclama dos direitos trabalhistas, se o rico reclama do SUS, sem nunca ter precisado do SUS, Marquinho que quer ser rico reclama do SUS. Então se o rico vota em quem representa seus interesses, o Marquinho que pensa vir a ser rico vota no representante do rico. "Eu não sou rico ainda, mas já penso como rico", disse todo orgulhoso o empreendedor de fones de ouvido no Shopping Trem. Marquinho faz coro e acrescenta, "o Mourão é um gênio!".

ELENÃO!!!!