Lembro-me, quando criança, de tia
contar a história de uma linda caiçara que se jogou ao mar durante os festejos
de Iemanjá. Pouco se sabia da moçoila, que passou a aparecer para veranistas
desavisados ou incrédulos em noites de festa em homenagem à Rainha do Mar.
Criou-se então a versão que a batizou de Inaê Mirim, que era a história que tia
contava. “Não sei bem dizer como de fato
as coisas aconteceram, nunca vi o mar, mas sua brisa, que o vento nos trás,
assim me narrou... A menina tinha cabelos encarapinhados e a pele negra, negra,
lábios vistosos e olhos amendoados perdidos no infinito mar, era formosa e
atraia os olhares de todos. Costumava
tomar banho nas águas do mar toda manhãzinha, fizesse sol ou chuva, fosse verão
ou inverno e, nuinha, nuinha, se estendia nas pedras e lá ficava aos olhos de
pescadores e veranistas, sem dar-lhes atenção. Diz-se que uma certa manhã
apaixonou-se por um veranista que também se banhava à mesma hora que ela. Os
locais se aperceberam e ficaram despertado de ciúme. O fato é que o mancebo, alguns
dizem, deu-se sumiço, outros, fora sumido, sumiu sem deixar nome ou endereço.
Caiu tristeza profunda sobre a pobre caiçara, que deu-se ao mar e à Janaina,
para desconsolo de todos. É desta feita que Inaê Mirim, aparece aos veranistas
e os carrega com ela, quando estes não observam as placas que proíbem o banho
de veranistas antes das 9h.” Toda vez
que vou ao mar, recordo desta história contada por tia, e, com tal recordo, o
ambiente se perfuma de bolinho de chuva, pipoca, fogo de fogueira, que me vejo
em seu quintal e não na praia. Estou aqui selecionando algumas fotos que fiz
para o próximo numero da revista em que trabalho. Pediram-me fotos de praias ao
amanhecer. Passei os últimos dois meses visitando algumas praias indicadas por
minha editora. Agora, selecionando-as, caiu-me às mãos esta: uma jovem negra,
de beleza escultural acena-me de dentro o mar. Não lembro-me ter tirado tal
foto. Em seu verso, se lê: “Praia de
Inaê Mirim, 19 de maio de 1968”. Nunca ouvi falar de tal praia, mas, o que mais
me espanta é a data: refere-se é ao aniversário de passamento de tia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário