sexta-feira, maio 04, 2018

PRAIA DE INAÊ MIRIM


Lembro-me, quando criança, de tia contar a história de uma linda caiçara que se jogou ao mar durante os festejos de Iemanjá. Pouco se sabia da moçoila, que passou a aparecer para veranistas desavisados ou incrédulos em noites de festa em homenagem à Rainha do Mar. Criou-se então a versão que a batizou de Inaê Mirim, que era a história que tia contava.  “Não sei bem dizer como de fato as coisas aconteceram, nunca vi o mar, mas sua brisa, que o vento nos trás, assim me narrou... A menina tinha cabelos encarapinhados e a pele negra, negra, lábios vistosos e olhos amendoados perdidos no infinito mar, era formosa e atraia os olhares de todos.  Costumava tomar banho nas águas do mar toda manhãzinha, fizesse sol ou chuva, fosse verão ou inverno e, nuinha, nuinha, se estendia nas pedras e lá ficava aos olhos de pescadores e veranistas, sem dar-lhes atenção. Diz-se que uma certa manhã apaixonou-se por um veranista que também se banhava à mesma hora que ela. Os locais se aperceberam e ficaram despertado de ciúme. O fato é que o mancebo, alguns dizem, deu-se sumiço, outros, fora sumido, sumiu sem deixar nome ou endereço. Caiu tristeza profunda sobre a pobre caiçara, que deu-se ao mar e à Janaina, para desconsolo de todos. É desta feita que Inaê Mirim, aparece aos veranistas e os carrega com ela, quando estes não observam as placas que proíbem o banho de veranistas antes das 9h.”  Toda vez que vou ao mar, recordo desta história contada por tia, e, com tal recordo, o ambiente se perfuma de bolinho de chuva, pipoca, fogo de fogueira, que me vejo em seu quintal e não na praia. Estou aqui selecionando algumas fotos que fiz para o próximo numero da revista em que trabalho. Pediram-me fotos de praias ao amanhecer. Passei os últimos dois meses visitando algumas praias indicadas por minha editora. Agora, selecionando-as, caiu-me às mãos esta: uma jovem negra, de beleza escultural acena-me de dentro o mar. Não lembro-me ter tirado tal foto. Em seu verso, se lê:  “Praia de Inaê Mirim, 19 de maio de 1968”. Nunca ouvi falar de tal praia, mas, o que mais me espanta é a data: refere-se é ao aniversário de passamento de tia.

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