sábado, maio 12, 2018

O ESTRANGEIRO


Terezinha estendeu a mão à cigana. Esta, entre dentes dourados, vaticinou: “terás oito filhos, o terceiro é melhor não tê-lo”. Terezinha, não entendendo o enigma, desdenhou e riu. A cigana, ofendida, emendou como praga lançando: “sete flores, um espinho, eis teu destino”. Terezinha deu-lhe uma moeda, seguiu seu caminho. O tempo passou, com ele as palavras da cigana fizeram-se destino. Terezinha teve oito filhos. Homens e mulheres em igual número os teve. O terceiro, ao contrário dos demais não nasceu. Tal qual exilado, foi ao mundo lançado. Como a todos os outros, Terezinha não fez caso acolheu-o em seus braços o acalantou e curou-o como as mães fazem. Deu-lhe de si, como dera-se a todos os outros. E os outros todos tornaram-se senhores de suas vidas: são reis e rainhas, flores de rara espécie. O terceiro claudica, e buscou nos livros a arte de produzir cordas. Confeccionou-se uma e nela se enrola, a amarra ao pêndulo do tempo. Ao extremo, armou um laço. Enfiou-se nele. O tempo rege a corda e o cadafalso. Oito filhos Terezinha tem, se o terceiro não lhe é espinho, no entanto é estrangeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário