O ESTRANGEIRO
Terezinha estendeu a mão à cigana. Esta, entre
dentes dourados, vaticinou: “terás oito filhos, o terceiro é melhor não tê-lo”.
Terezinha, não entendendo o enigma, desdenhou e riu. A cigana, ofendida,
emendou como praga lançando: “sete flores, um espinho, eis teu destino”. Terezinha
deu-lhe uma moeda, seguiu seu caminho. O tempo passou, com ele as palavras da
cigana fizeram-se destino. Terezinha teve oito filhos. Homens e mulheres em
igual número os teve. O terceiro, ao contrário dos demais não nasceu. Tal qual
exilado, foi ao mundo lançado. Como a todos os outros, Terezinha não fez caso
acolheu-o em seus braços o acalantou e curou-o como as mães fazem. Deu-lhe de
si, como dera-se a todos os outros. E os outros todos tornaram-se senhores de
suas vidas: são reis e rainhas, flores de rara espécie. O terceiro claudica, e
buscou nos livros a arte de produzir cordas. Confeccionou-se uma e nela se
enrola, a amarra ao pêndulo do tempo. Ao extremo, armou um laço. Enfiou-se
nele. O tempo rege a corda e o cadafalso. Oito filhos Terezinha tem, se o
terceiro não lhe é espinho, no entanto é estrangeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário